Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
E aconteceu naqueles dias que saiu um decreto da parte de César Augusto para que todo mundo se alistasse. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. Também José precisava subir a Belém da Judeia, a cidade de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Ora, José consultou o preço das passagens aéreas e percebeu que estavam ainda mais caras do que de costume. Decidiu que iriam de ônibus mesmo. E aconteceu que, estando eles em Belém, se cumpriram os dias em que Maria havia de dar à luz. E deu à luz seu filho primogênito, chamado Jesus, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, pois os hotéis estavam todos com lotação esgotada para as festas do fim de ano.
Ora, aquele era o tempo do Rei Herodes, e eis que uns magos vieram a Jerusalém. Eram chamados magos pela habilidade com que realizavam prodígios na área de vendas. Através de uma elaborada análise dos rastros deixados pela família de José na internet, estes homens chegaram ao lugar onde estava o recém-nascido já certos da preferência de cada um. E ofereceram então ao pai da criança um catálogo com diversos presentes ao menino Jesus, ressaltando que, sem eles, o próprio nascimento da criança não faria sentido. Os magos divulgaram uma palavra acerca do menino: com os nossos produtos, ele será em pouco tempo o rei dos judeus.
E todos os que a ouviram se maravilharam do que lhes diziam. Só que José era um simples carpinteiro, e por isso não tinha dinheiro para comprar a maior parte dos presentes oferecidos. Mas os magos tanto falaram nas opções de parcelamento e nos juros baixos que ele decidiu comprar um iPad, um iPhone e uma led TV. E assim fez as suas primeiras dívidas para o ano que ainda não havia começado. Mas o sucesso da festa que pretendiam dar estava garantido.
O dia seguinte foi de preparativos para a ceia, sendo Maria ajudada por sua parente Isabel, mãe de João Batista. Ao final estavam as duas tão cansadas e estressadas que pouco aproveitaram da festa. Os presentes foram entregues conforme a tradição, ou seja, dizendo às crianças que foram trazidos pelo Rei Herodes. E o recém-nascido chorou bastante, mas quase ninguém ouviu.
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Não é de hoje que tentam acabar com o mundo. Folheio uma edição dos anos 60 da “Gazeta do Povo” e encontro essa matéria extraordinária: “Para evitar que o mundo termine no dia de hoje, sacerdotes indianos entoam cânticos desde ontem”. Dizia a astrologia indiana que oito planetas entrariam em conjunção astrológica. Alguns monges viam isso de forma positiva: “Sim, haverá uma outra guerra, mas tudo acabará bem”. Podíamos nos tranquilizar, portanto. Devemos dar um voto de crédito à Bolsa de Calcutá, porque, reconhecendo a gravidade da situação, “diminuiu o ritmo de suas atividades para permitir que os seus empregados e corretores assistam aos serviços religiosos destinados a por em paz com o céu as almas dos homens”.
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Não há rena do Papai Noel que goste do Natal mais do que eu. Por isso desejo que o seu seja positivamente marcante. Se possível, que você chore sem saber por quê. Veja algo triste. Mas descubra-se amado. E então ria histericamente. Dê bananas ao comércio. E não se esqueça de viver.