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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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A São Bento americana

Terça, 13 de novembro de 2012

A São Bento americana

Não acompanhei muito as eleições americanas, mas o suficiente para perceber que estão mais próximas de um grande espetáculo do que as brasileiras. Por aqui, um simples comício está longe de decidir uma eleição. Em todo caso, tanto lá como aqui se aposta cegamente na ignorância do eleitor. Nas últimas sete eleições o Partido Democrata venceu as eleições no Estado de Wisconsin. E por que falo em Wisconsin? Porque ele é a São Bento americana.

 

Primos ricos do norte

Wisconsin é o Estado americano que mais teve imigrantes da Boêmia – da mesma forma que São Bento do Sul é a cidade brasileira com maior número de boêmios, condição sempre ignorada ao longo da nossa história. Os boêmios de Wisconsin vinham de diferentes partes, e uma das principais era a região de Pilsen. É justamente a região que entendemos como Böhmerwald, uma das que mais contribuiu com imigrantes para São Bento. São de lá famílias como Linzmeyer, Grosskopf, Rank, Schreiner, Zipperer, Liebl, e tantas outras que existem aos montes também em Wisconsin.

Essa imigração nos Estados Unidos foi maior entre 1848-1880. Hoje Wisconsin disputa com a Dakota do Norte o título de Estado mais alemão, mas também vieram muitas famílias tchecas – a outra metade da Boêmia. As duas culturas sempre estiveram próximas, ainda na Europa, alternando momentos de harmonia e conflito armado. Em Wisconsin, os boêmios estabeleceram em municípios como Manitowoc, Kewaunee, Oconto, La Crosse, Adams e Marathon.

E por que Wisconsin? Além de ter bons portos próximos, o solo da região se adaptou rapidamente aos lavradores. Embora o inverno fosse mais frio do que na Europa, muitas das culturas encontraram lá espaço para crescer. Não havia competição com o trabalho escravo e os impostos eram baixos. A cidadania americana podia ser obtida em apenas um ano. Estrategicamente, havia um oficial em Nova Iorque atraindo imigrantes para Wisconsin.

Os anúncios eram atraentes: “Venha! Em Wisconsin todos os homens são livres e iguais perante a lei. A liberdade religiosa é absoluta é não há a menor ligação entre igreja e Estado. Em Wisconsin nenhuma qualificação religiosa é necessária para cargos e para votar. Tudo o que é exigido é que homens tenham 21 anos e tenham vivido pelo menos um ano no Estado”. Para os boêmios de São Bento não houve preocupação com a religião, pois era a mesma professada pela maioria no País.

Em pouco tempo surgiam as primeiras sociedades boêmias nos Estados Unidos – São Bento teve a sua também. No começo dos anos 1900, um artigo comentava que a obrigação dos boêmios de Wisconsin com seus lares e famílias ofuscava qualquer tentativa de ser tornarem líderes políticos ou figuras públicas notáveis. Contentavam-se com um gradual sucesso financeiro como trabalhadores, fazendeiros, mecânicos e homens de negócios. É curioso que, por esses ou outros motivos, também os boêmios de São Bento pouco ou nada se interessaram por política nos primeiros anos da cidade. Também é curioso que os democratas vençam por lá.

Temos visto recentemente uma aproximação dos tchecos com São Bento do Sul. Seria bastante produtivo para a nossa história se também estreitássemos relações com nossos primos ricos do norte.



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