Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
O terror no aniversário da cidade
Pouco mais de três linhas. Esse foi o espaço que o aniversário de 25 anos de São Bento do Sul mereceu no jornal da época. Havia coisas demais acontecendo na cidade naquele ano de 1898. A notícia principal daquele dia foi a acusação de que alguns soldados estariam promovendo arruaças e agressões contra cidadãos de bem. E o Dr. Philipp Maria Wolff não perdeu a oportunidade de insinuar no jornal que, ao invés de causar desordens em São Bento, esses soldados estariam melhor empregados se estivessem em Joinville tomando conta de Joaquim da Silva Dias – o homem que foi preso acusado de mandar matar o presidente da Câmara, Alberto Malschitzky, em meio aos terríveis acontecimentos do ano anterior.
“Eu o moralizei bem”
Joaquim da Silva Dias havia sido promotor público em Campo Alegre. A maioria das testemunhas ouvidas no caso dava a entender que era ele o responsável pela morte de Malschitzky. E por qual motivo? Um telegrama. Malschitzky havia enviado um telegrama ao governador Hercílio Luz pedindo a exoneração de Dias do seu cargo de promotor, “a bem da ordem e da moralidade”.
Foi o suficiente. “Alemão ordinário de merda”, teria dito – é assim que está no jornal. “Agora eu o moralizei bem”, também teria dito após o crime, segundo uma das testemunhas. Dizem elas também que Dias pretendia fazer uma espécie de golpe de Estado, derrubando a prefeitura de São Bento, ainda que isso custasse muitas mortes.
E o caso envolvia gente graúda na região, como Francisco Bueno Franco, primeiro prefeito de São Bento e depois de Campo Alegre. Fala-se ainda num bando de 15 jagunços que trabalhariam para Dias. Nada sei, nada sei. Sei apenas que, além de terríveis, os episódios daquele tempo também tiveram os seus momentos cômicos.
Um cavalo na cadeia
Uma das testemunhas ouvidas foi Serapião Marcondes da Fonseca. Revelou todos os supostos planos de Dias, mas também se complicou no depoimento, e por isso recebeu ordem de prisão. Ao ouvir isso, Serapião deu no pé. Fugiu pela janela. Um grupo de soldados foi até a casa dele procurá-lo. Chegando lá, encontraram outro homem e pediram que dissesse onde estava Serapião. “Eu não sei, ele saiu cedinho para ir nessa audiência. Pelo menos foi o que ele disse pra família”, explicou o homem.
Por via das dúvidas, levaram o homem até o delegado. Perguntaram a ele então se era Juiz Distrital. “Se sou o quê? Não, eu sou hoteleiro na Lapa! Vim aqui apenas tratar de negócios!”. Em seguida, foi posto em liberdade. E nada de Serapião.
Foram então procurar na casa do futuro prefeito Manoel Tavares, inimigo de Dias, pra ver se não estava escondendo Serapião por lá, a fim de se beneficiar com suas informações. Não estava. Foram então ao palacete do Dr. Wolff. Nada encontraram também. Às 19h, voltaram para a casa de Serapião e cercaram a estrebaria. Se ele aparecesse por lá atrás de algum animal, seria pego. Ficaram lá até às 6h da manhã, e nada do homem aparecer. Não tendo mais o que fazer, os soldados levaram preso então o cavalo de Serapião, que ficou amarrado no quartel em São Bento. Tudo leva a crer que ele não tenha prestado depoimento.
E mais não digo por hoje, mas outro dia 1897 voltará a esta coluna.