Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
Facebook Jornal Evolução       (47) 99660-9995       Whatsapp Jornal Evolução (47) 99660-9995       E-mail

Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


Veja mais colunas de Henrique Fendrich

A cidade caminhava devagar

Segunda, 16 de julho de 2012

- Então você que é o Henrique? Ah, mas é uma criança ainda. Você é dos Fendrich do açougue? Senta aí pra gente conversar. Você gosta de ouvir essas coisas de antigamente, né? Naquele tempo a cidade caminhava mais devagar. A gente tinha bastante coisa para fazer, mas as coisas passavam devagar. Trabalhava o dia inteiro na fábrica, chegava em casa e ajudava os pais. E para se divertir não tinha muita coisa, não. O que animava mesmo eram os bailes, os casamentos, no final de semana.

Mas a gente ficava muito em casa também, com a família. Tá vendo ali na parede? Mamãe teve treze filhos. Hoje em dia parece loucura, né? Eu devia ter uns dois anos nessa foto. Como mudaram as coisas! O pior é que nem sempre a gente se adapta, né? Computador, essas coisas. Nunca mexi. E nem quero. Não sei se é medo. É mais difícil pra gente né? Eu às vezes acho que essas coisas modernas deixam a gente mais distante. Cada um no seu canto, uma coisa estranha. Não era assim, Henrique. Às vezes dá uma saudade de como as coisas eram. Mas passou, né, fazer o quê.

E quem se interessa pelas coisas que passaram? Você é um caso raro, menino. Caso raro. Porque a gente não tem com quem falar, não. A não ser os outros velhos. Só que eles vão morrendo. Do meu tempo tem poucos. Semana passada fui a dois enterros. Um era o velho Zépi, da oficina. Você não deve ter conhecido. Não é do teu tempo. Era casado com uma prima minha. Essa já é falecida há muitos anos. Bom. Mas amanhã já é a missa de sétimo-dia. Isso também é uma coisa que mudou bastante, né? Missa. Hoje não tem mais isso de ir lá todo domingo. Pessoal não respeita mais. E às vezes nem quem vai respeita direito. Essa juventude já não respeita muita coisa.

Você sabe que naquela rua de cima tem um colégio, né? Cinco horas, a calçada aqui em frente vira um inferno. Eles descem a rua em bando. Se a gente tiver chegando ou saindo de casa, é capaz de ser arrastado. Se a gente encontra eles na calçada, quem tem que descer é a gente. Não é fácil. Mas a mãe fez bolo pra nós. Tem cuque também. Essa é da festa da igreja. Meu filho que comprou. Aliás, ele ficou de passar aqui. Deve tá chegando, aí você conhece ele também. Se fosse ontem, você ia conhecer uma das minhas filhas. Eles sempre tão por aqui, ajudando a gente. Ajudam com essa coisa de médicos, remédio também. Coisas de velho mesmo, Henrique.

Eu gosto mesmo é quando todo mundo tá junto. Natal, Ano Novo. Antigamente a gente fazia um almoço aqui. Hoje a gente não dá mais conta, né? Aí a gente vai para algum restaurante. Faço questão de pagar a conta. Os outros não querem, mas eu pago com alegria, sabe? Todo mundo reunido. Filhos, netos. Ah, não te contei, vou ganhar mais uma netinha. É bom porque deixa as coisa mais alegres, né? Esse ano eu com a mãe nem ia fazer mais a árvore de Natal. Muito trabalho. Mas agora, com criança, pode ser que a gente ainda faça. Elas gostam, né? Mas coma mais! Quer mais refrigerante? Eu falo bastante, né? Você não ligue, que eu às vezes começo e não paro mais. Depois quero te mostrar o álbum do papai. Tenho alguns livros velhos também. Pode ser que te interesse. Tanta coisa bonita passou, sabe? Sim senhor, a cidade caminhava mais devagar.



Comente






Conteúdo relacionado





Inicial  |  Parceiros  |  Notícias  |  Colunistas  |  Sobre nós  |  Contato  | 

Contato
Fone: (47) 99660-9995
Celular / Whatsapp: (47) 99660-9995
E-mail: paskibagmail.com



© Copyright 2025 - Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
by SAMUCA