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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Brasília quando longe

Terça, 03 de julho de 2012

Tenho três anos a menos, e ainda estou morando em Curitiba. Não tenho emprego algum. Sou um jornalista recém-formado e meu currículo é simples e vazio. Preciso dar um jeito de arrumar dinheiro porque, entre outras coisas, quero viajar. Pretendo ir para Brasília. Eu poderia escolher uma porção de cidades mais próximas. São Paulo, por exemplo. Ou, sei lá, voltar pra São Bento. Mas escolhi justamente a capital do país. Se alguém me perguntar, direi que estou indo em busca de trabalho – e no fundo estou também. Aqui em Curitiba já tem jornalista demais. Estou há um ano procurando emprego na área. Mas tenho vergonha de dizer que quero ir para Brasília, principalmente, por causa de mulher. Agora estou apenas escrevendo, e então eu confesso qualquer coisa. Estou querendo ir para Brasília por causa de mulher. Só que estou sem trabalho algum e, portanto, também estou sem dinheiro.

Sou um viciado, ou pelo menos ajo como um: começo a vender as coisas da casa. Tudo aquilo que não me interessa mais e que tem algum valor. Estou caminhando agora pelo centro de Curitiba com uma mochila velha, cheia de livros e revistas usados – todos os que consegui encontrar ao revirar a casa. Consegui juntar também alguns CDs e até mesmo uma enciclopédia, dessas que não servem mais para nada depois do Google. Coloquei até alguns poucos gibis – não muitos, pois não quero me desfazer da minha coleção. Eu preciso de dinheiro, mas a verdade é que não tenho muita coisa para vender. Então, tudo o que me ocorre fazer é ir a um sebo e vender esse monte de coisas velhas. Sei que não vou conseguir dinheiro suficiente, mas já ajuda. Existe uma garota em Brasília.

Estou agora em um desses sebos, aquele que julguei mais apto a comprar os meus livros. Abro a mochila e começo a tirá-los, um a um. No fundo, não quero me livrar de nada disso. Tenho dificuldade em livrar das coisas, e ainda mais se forem livros. Um homem começa então a avaliá-los. Agora, aqueles livros não passam de simples objetos comerciais. Não é a primeira vez que venho aqui. Na semana passada, consegui R$ 20,00 assim. Achei que valeria mais. Mas aceitei, porque não tinha escolha. E por isso tive que fazer uma nova peneira: livros que não foram vendidos na primeira vez entraram na mochila agora. O homem devolve os meus gibis. Diz que não vende isso. Escolhe os melhores livros. Uns livros técnicos, coisas de faculdade. Oferece R$ 15,00. Aceito. Se descontar os gastos que tive com a passagem de ônibus, serão R$ 11,00. O homem não sabe que quero ir para Brasília. Definitivamente, não sabe. Não sabe o preço da passagem. Não entende nada de pressão, e menos ainda de paixão.

Mas não o culpo – eu também, neste momento, não sei uma porção de coisas. Por exemplo: não sei que o amor pode acabar. Ou que, às vezes, ele não chega sequer a existir – e não será por pura teimosia que ele surgirá. Na verdade, não sei nem o que é amor – estou tomado por simples desejo. Também não faço ideia de como seja Brasília. E, absolutamente, desconheço o que é viver sozinho nela. Sou apenas um pobre rapaz que agora carrega uma mochila quase vazia, enquanto volta para casa, preocupado.



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