Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Alguém já deve ter percebido que estou sempre atrasado no que escrevo. Pego o rastro dos acontecimentos e depois tento transformá-lo em algo novo. Pois bem. Não é diferente desta vez. Tão preocupado estava com carroças e geladeiras que nem me dei conta que foi comemorado no final do mês passado o Dia Internacional do Teatro.
E soube disso através do Robson Rodrigues, a quem não conheço pessoalmente, mas que sei ser o sinônimo de teatro em São Bento. No contexto raivoso das eleições municipais em São Bento (e que sequer começaram), Robson tem se esforçado no Facebook para chamar a atenção da cidade também para a questão da cultura, que é onde, diz ele, tudo se inicia. É uma batalha difícil e digna de nota que me fez lembrar os feitos do Arno Fendrich.
Também não conheci o Arno. Bolas, eu conheço poucas pessoas. Mas aí estão os jornais antigos que não me deixam mentir. As edições da “Tribuna da Serra” dos anos 60 são cheias dos apelos de Arno para a valorização do teatro e da cultura na cidade. Em 1963, por exemplo, ele se queixava que o teatro estava sendo desbancado pelo cinema e pela televisão. E que o governo brasileiro tinha coisas mais importantes para pensar do que o teatro.
Apenas em lugares como Roma, Nova Iorque, Paris e Londres é que o teatro ainda rendia. No Brasil, Arno dizia que, além de não auxiliar, o governo ainda tirava tudo o que o teatro havia conquistado. E faz então uma comparação: nos grandes centros, o teatro era uma grande magazine, caminhando a passos de gigante. No nosso país, o teatro era uma lojinha. E para Arno, povo ou governo que não apoia o teatro está morto – no mínimo moribundo.
E segue nessa linha até falar das dificuldades com o seu grupo de teatro em São Bento. É preciso lembrar que essa era a época de maior sucesso do teatro na cidade. As apresentações do Grupo de Teatro Bandeirantes tinham público cativo. Arno chama a atenção justamente para isso: em todas as apresentações houve muita gente, muito movimento – e, ainda assim, não havia apoio financeiro. E terminava o seu artigo de forma contundente: “Terra sem teatro é sertão sem chuva”.
Evitar a seca
O que Arno Fendrich fazia, com uma dedicação espantosa, era tentar impedir que a seca chegasse a São Bento do Sul. Seu grupo de teatro amador sofria com a falta de incentivos e com os valores absurdos de impostos. Nem mesmo premiações como a do Festival do Teatro Amador de Florianópolis mudavam a situação. O sentido de tudo que Arno escrevia na época era basicamente este: “Precisamos de auxílio para ajudar a construir uma São Bento do Sul cada vez maior no setor cultural”.
Não sei dizer o quanto as coisas mudaram de lá para cá, especialmente na questão do teatro. Mas os apelos de Robson Rodrigues talvez signifiquem que na cabeça de muita gente a cultura ainda não é tão urgente como, digamos, os buracos na rua. Também não me parece que o tema esteja entre as prioridades nas discussões desse período pré-eleitoral.
O teatro em São Bento existe desde o final do século XIX, quando praticado por membros da atual Sociedade de Cantores 25 de Julho. Falta ainda que lhe escrevam a história. Este cronista, humildemente, apoia a causa.