Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
A cada semana, basta o seu próprio mal. Pois se tivemos a semana da Serra Dona Francisca e, logo depois, a do Contorno Norte, não foi de admirar que tivéssemos também uma semana das geladeiras. Foi esse, pelo menos para mim, que sou pobre e moro longe, o assunto de maior repercussão nas redes sociais. E com razão, pois é motivo de grande preocupação constatar que o trânsito de São Bento, já não podendo mais suportar o aumento do número de veículos, começa a ter que dividir espaço também com os eletrodomésticos. Enfim, talvez o Contorno Norte seja realmente necessário.
Verdade seja dita: legalmente, não há nada que impeça as geladeiras de adentrarem nos estacionamentos. Consultei o Código de Trânsito e não encontrei um único parágrafo que as proibisse. A isso se soma o fato de que, tendo rodinhas, as geladeiras são tão veículos como, digamos, os carrinhos de mão. É possível até mesmo que transportem uma pessoa - vai passar um pouco de frio, mas nada impede. Mas não era isso que eu queria falar. O episódio das geladeiras foi apenas a ocasião para que eu me lembrasse do antigo Código de Posturas de São Bento - era a nossa legislação na época.
Isso antes de 1900. Também nada encontrei lá sobre eletrodomésticos. Mas achei um parágrafo dizendo que nenhum veículo podia parar na rua ou nas estradas, devendo ser estacionados de modo a não embaraçar o trânsito. Estavam falando de carroças. Estacionar significava deixar os animais atrelados e sem condutor. Eram tempos em que as pessoas se recolhiam cedo, e por isso o Código proibia que qualquer carro ficasse estacionado à noite. Salvo caso de força maior, e o Código não explicava o que era isso.
Ah, e como era poético o Código de Posturas de São Bento! No artigo seguinte fica estabelecido que não poderá transitar em noite sem luar qualquer veículo que não tenha lanterna com luz acesa e bem visível. Ora, como diria o apóstolo Paulo, a lei é boa, santa e justa, mas foi através dela que eu tive conhecimento do pecado. Porque isso significa que nas noites de luar não é preciso lanterna nenhuma. Vocês podem imaginar isso hoje? À noite, não será necessária outra iluminação que não a da própria lua.
Lei seca nas carroças
E já naquele tempo imperava a lei seca, multando os condutores que fossem encontrados embriagados. Imagino que meu bisavô Frederico Fendrich, o filho, e seu amigo Hans Schreiner deram sorte. Um dia, os dois foram de carroça tratar de negócios na casa e serraria de Affonso Jung. Eram camaradas e ficaram tomando vinho até a noite. Até que resolveram voltar. Mas ao invés de pegarem a estrada que levava até São Bento, pegaram outra, por engano. E só foram perceber que alguma coisa estava errada quando já estavam em Lençol.
Deram meia volta, mas aproveitaram que estavam lá para dar uma passada na casa de negócios do Sr. Maia. Enquanto estavam lá – dizem – algum malandro teria virado a carroça para o sentido oposto. E ao embarcarem de novo, os dois simplesmente seguiram em frente. Quando perceberam que São Bento estava demorando muito para chegar, eles descobriram que já estavam chegando em Rio Negrinho.
Fizeram novo retorno e foram chegar em casa 5:00 da madrugada. Arre!