Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Terminei de forma melancólica a crônica da semana passada, sugerindo que apenas a pandemia era capaz de unir a humanidade. Mas agora sou obrigado a acrescentar: a pandemia e a Serra Dona Francisca. Foi, na verdade, com certo espanto que vi a comoção nas redes sociais contra o projeto de lei que pretendia dar um nome oficial para a Serra, e que seria o do vereador joinvilense Arno Krelling. Isso porque dificilmente um assunto se aproxima tanto da unanimidade. Unidos, os são-bentenses reagiram contra o projeto, fazendo muito barulho e chegando a organizar um protesto no mirante da Serra, que não foi necessário, pois o deputado autor da proposta, vendo-se pressionado, voltou atrás.
Com a vitória, não é mais preciso falar dos motivos para que a Serra Dona Francisca não tenha outro nome oficial senão este mesmo pelo qual é conhecida – e, houvesse uma pessoa a ser homenageada, deveria ser o agrimensor Karl August Wunderwald, que abriu uma picada serra acima na base do facão. Mas o que me deixou contente foi o envolvimento de pessoas da cidade com algo totalmente abstrato, como o nome de um lugar e a sua preservação histórica. Houve, é verdade, quem reclamasse. Otto Filho, o homem sem passado, por exemplo, me mandou uma mensagem privada no Facebook falando que “pouca importa o nome, desde que a estrada esteja em boas condições”. Bem ao contrário do seu pai Otto, o Bismarck das Araucárias, que chegou a propor inclusive que São Bento anexasse a Serra.
Bom. Mas lá está a Dona Francisca, que continuará Dona Francisca. Feliz de quem deu o nome por primeiro. Lembrei agora do Adão, que teve a sorte de escolher o nome de todos os bichos. O cachorro, a vaca e o ornitorrinco têm esses nomes porque um dia Adão escolheu, e não houve clamor político capaz de alterá-los. Nem a República foi capaz de mudar o nome do leão, essa figura monárquica. Nem mesmo Getúlio Vargas foi capaz de arrumar para si o nome de qualquer animal. Foi, apesar disso, bastante competente para conseguir uma praça no centro de São Bento.
Mudem o nome da praça!
Bolas, e por que Getúlio Vargas? A praça é o lugar mais significativo da história de São Bento, podendo ser apontada como o marco zero da cidade, lugar em que os imigrantes ficaram morando enquanto ainda não haviam construído as suas casas. Mas de repente aparece algum puxa-saco que decide colocar nela o nome do presidente. Vargas já tem homenagens suficientes em quase todas as cidades do Brasil, e não faz sentido dar a ele o nome de um dos lugares mais importantes do passado de São Bento.
Alguém poderá alegar que, assim como a Dona Francisca, o nome de Vargas já é tradicional, e hoje em dia não se conhece a praça de outra maneira. Mas ao contrário da Serra, que sempre teve esse nome, o nome da praça foi dado, politicamente, apenas nos anos 40, depois de já ter sido chamada de João Pessoa, também por motivos políticos. Está na hora de usarmos motivos históricos para darmos os nomes de nossos locais históricos. A Praça Getúlio Vargas já foi conhecida como Jardim do Imigrante. É um nome simpático e que, mais do que isso, vem fazer justiça à memória da nossa cidade. Essa é a minha solitária campanha.