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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Para pessoas de opinião

Segunda, 05 de março de 2012

Foi com este título que Artur da Távola iniciou uma crônica escrita nos anos 70 – hoje totalmente desconhecida. Nela, o cronista lembrava como valorizamos as pessoas que têm uma opinião formada. Basta ver o quanto não gostamos de quem “fica em cima do muro”. Queremos que as pessoas se decidam logo, escolham uma opinião e a sustentem. O Brasil parece um lugar em que tudo já foi pensado, cabendo a nós apenas escolher uma das opiniões já existentes e nela nos acomodarmos.

Mas Artur da Távola convida o leitor a refletir sobre a profundidade disso que chamamos “opinião”, e que para ele não é mais do que uma das primeiras reações que se tem diante das coisas. Isso porque expressa um sentimento, um julgamento. Pense em um assunto polêmico qualquer. Um que envolva política, por exemplo. Ao ouvirmos um comentário sobre isso, nosso cérebro faz uma síntese de quem somos até o momento, e reagimos conforme o primeiro sentimento que o episódio nos traz: raiva, alegria, indignação, indiferença. Essa reação revela a maneira como julgamos a vida, o mundo e as pessoas. Nesse momento, formulamos a nossa opinião.

A opinião, nascida tão prematuramente, não dá conta dos vários componentes da realidade. Ao contrário, ela é uma forma de se defender da complexidade da vida. Arrumando logo uma opinião, eu não preciso mais me preocupar com as contradições. A opinião nos livra do trabalhoso ato de pensar. É mais fácil do que ter dúvidas. E o pior é que insistimos nela até a morte. Tente se lembrar da última vez que você ou outra pessoa voltou atrás com sinceridade de uma opinião que defendeu. Tratamos a nossa opinião como a própria verdade, e não como parte do processo para chegar até ela.

 

Uma manifestação superficial

Para Artur da Távola, opinar significa simplesmente manifestar uma impressão, sujeita a retificações, correções e a mudanças permanentes. “O sentido essencial de opinar é conjecturar, ou seja, supor uma realidade para poder discuti-la e assim melhor conhecê-la”. E quantos de nós fazemos isso? Quem está disposto a reconhecer que a sua própria opinião é ainda uma manifestação superficial? Muitas vezes, nos apegamos a nossas experiências anteriores e a partir delas formulamos uma opinião encerrada em si mesma.

Ainda mais se sabemos que ter uma opinião nos traz prestígio. Escreva um artigo defendendo alguma coisa: sempre haverá quem concorde com você, e isso será um estímulo para que continue se agarrando ao que defendeu, ainda que evidências possam desmenti-lo. Veja o quanto somos levados a opinar sobre coisas que não conhecemos, e perceba ainda o quanto é difícil para aquelas que pessoas que conhecem chegar a uma opinião – elas conhecem as contradições. E apesar disso, vivemos nos ofendendo quando contrariam as nossas opiniões. Exigimos respeito pela “nossa opinião”. E sofremos por causa da opinião dos outros.

Este é um ano eleitoral, e a política já começa a esquentar a opinião das pessoas na cidade. E vejam que muita gente já decidiu em quem votar antes mesmo dos candidatos serem definidos: elas estão sendo fiéis à opinião que um dia tiveram.

A opinião, tão superficial, também elege governantes. Na minha opinião.



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