Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Fiquei feliz ao saber que na semana passada, lá na distante aldeia de Nýrsko, na República Tcheca, foi lançada a versão em tcheco do livro “São Bento no Passado”, que contém as memórias do imigrante Josef Zipperer sobre os primórdios da colonização na cidade. E minha felicidade se justifica porque há algum tempo venho defendendo uma aproximação entre são-bentenses e tchecos, pois a maior parte dos nossos imigrantes germânicos veio justamente daquele território, quando ele ainda era a Boêmia.
A tradução, feita por Petr Polakovič e Christa Petrásková, levou o nome de “Šumavané v Brazílii”, que, em português, quer dizer algo como “Pessoas da floresta boêmia no Brasil”. Josef Zipperer inicia seu relato justamente contando sobre a vida que se levava naquela região antes da imigração, e que era dura o bastante para que um dia eles decidissem tentar a sorte em outro lugar. Então deram as caras em São Bento. As gerações seguintes se preocuparam em preservar os hábitos culturais desses imigrantes, mas pouca gente se atentou ao fato de que os boêmios não vinham da Alemanha.
E em cima dessa dificuldade é que iniciativas como a tradução de Zipperer são bem vindas. Já existe há algum tempo um intercâmbio entre a República Tcheca e cidades gaúchas que receberam imigrantes boêmios, como Venâncio Ayres, Jaguari e, principalmente, Nova Petrópolis. Em Santa Catarina, ninguém recebeu mais boêmios que São Bento do Sul. Se quisermos nos destacar em meio ao “roteiro do turismo alemão” no Estado, seria conveniente que usássemos essa distinção a nosso favor. Ela nos torna únicos e (o que nem sempre acontece) está de acordo com o nosso passado.
Arquivos tchecos
Também é na República Tcheca que estão guardados os livros com registros de batizados e casamentos de antepassados dessas famílias boêmias. Recentemente, os mórmons, que estão digitalizando arquivos do mundo inteiro, disponibilizaram no saite “Family Search” registros de diversas aldeias do norte da Boêmia. Daquela região vieram várias famílias para São Bento, como os Roesler, Hübner, Fischer, Pfeiffer, Lang, Endler, Pilz, Langhammer, Schwedler, e algumas das famílias Weiss e Neumann.
Para muitos desses sobrenomes, já é possível avançar consideravelmente na história familiar sem sair de casa. Estou tendo essa experiência com a família Roesler, que imigrou de Reichenau, hoje conhecida como Rychnov nad Nisou. Os registros dessa aldeia estão disponíveis on line, mas escritos em alemão e quase sempre com uma péssima caligrafia. E, conforme se recua no tempo, os registros passam a estar em latim.
Apesar disso, considero que tenho feito verdadeiros milagres, pois fui capaz de levantar a história da família Roesler até o máximo que me parece possível. Cheguei até por volta de 1730, quando deve ter nascido Johann Adam Rössler, trisavô do imigrante Johann Rössler. Os arquivos na República Tcheca representam o crescimento do conhecimento histórico das famílias boêmias que colonizaram São Bento, e isso através de eventos e fatos concretos, passíveis de comprovação, sem espaço para fábulas. A história de nossa cidade só tende a ganhar na interação com os tchecos.