Em meio ao calor, à falta de espaço, à espera por atendimento e a poucos dias do início do recesso de fim de ano, uma mãe caminha pelo Hospital Municipal São José com o coração sendo partido a cada choro de dor que o filho solta e a cada pedido negado pelos funcionários da unidade de saúde.
Matilde Nizer convive há nove dias com os problemas da instituição, tempo em que o primogênito, Roberto, está internado depois de ter sido esfaqueado por um amigo na própria casa, em Itapoá. Desde o dia em que entrou no hospital, o jovem de 23 anos precisa ser encaminhado para a Unidade de Tratamento Intensivo, mas não há vagas – atualmente, o local conta com 14 leitos.
Na manhã de quarta-feira, ao mesmo tempo em que Matilde buscava uma solução para o drama que tem vivido, um grupo de cerca de cem servidores públicos do São José se reunia em assembleia com a direção do Sindicato dos Servidores Públicos do Município de Joinville (Sinsej), em frente ao Complexo Ulysses Guimarães. A conversa foi convocada pelos funcionários para que ocorresse durante as trocas de turnos, que acontecem entre 11h30 e 13h30.
Em pauta estavam dois problemas enfrentados pelos servidores. Um deles é a falta de condicionares de ar suficientes para os setores, prejudicando o trabalho dos funcionários e o tratamento dos pacientes que têm enfrentado dias com temperaturas a 38 graus e sem ventilação nas salas.
O outro, é a questão de horas-extras durante o recesso dos servidores, entre 21 de dezembro e 3 de janeiro. A Prefeitura de Joinville se comprometeu a pagar 100% das horas trabalhadas nos plantões durante o fim do ano, mas o hospital, por ser uma autarquia, decide separadamente, e ainda não se pronunciou sobre o assunto.
A reivindicação do Sinsej foi oficializada há cerca de 30 dias e obteve resposta no início da semana passada mas, segundo o presidente do Sinsej, Ulrich Beathalter, a direção do São José não se pronunciou.
— A gestão de pessoas da Prefeitura respondeu a favor, se comprometendo a pagar horas-extras neste período, mas o São José, que tem autonomia para decidir, jogou a responsabilidade para a Prefeitura —, afirma Ulrich.
Segundo o diretor executivo do hospital, Fabrício Machado, apesar de ser uma autarquia, o São José precisa da aprovação da Prefeitura para assumir o mesmo compromisso.
— O hospital depende da folha de pagamento da Prefeitura. Estamos aguardando a decisão do gabinete, mas ainda não tivemos nenhum pronunciamento —, afirma Fabrício.
Se a direção da unidade de saúde não oferecer uma resposta positiva ao sindicato até a manhã de quinta, os servidores planejam realizar uma nova paralisação, desta vez para verificar a adesão em uma greve que começaria na segunda-feira.