Sônia Pillon nasceu em Porto Alegre e desde 1996 reside em Jaraguá do Sul.
Formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto pela Univille, atuou como repórter, editora, redatora e assessora de imprensa, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Por mais de 10 anos trabalhou no jornal A Notícia.
É autora de “Crônicas de Maria e outras tantas – Um olhar sobre Jaraguá do Sul” e “Encontro com a paz e outros contos budistas”, com participação em antologias de contos, crônicas e poesias.
Publica também no blog soniapillon.blogspot.com e na fanpage "Sônia Pillon Escritora". É Presidente de Honra da Seccional Jaraguá do Sul da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina (ALBSC).
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O calabouço era escuro e úmido. Uma pequena réstia de luz atravessava as grades da minúscula janela, lá no alto. Durante a madrugada, a janela também dava acesso aos morcegos, que faziam voos rasantes e ruídos de arrepiar o mais corajoso dos cavaleiros. Sujo e empoierado, o local também estava tomado por ratos e baratas. Um completo cenário de horror.
E era nesse ambiente fétido e aterrador que lorde Thompson estava encarcerado, longe de tudo e de todos, principalmente de sua amada, desde que o soberbo Henry, o rei da Bretanha, descobriu que ele cortejava sua única filha, Mary Hellen. Ambicioso, o frio soberano tinha outros planos para sua herdeira. Pretendia casá-la com um outro rei, unir os dois reinos e crescer ainda mais em seus domínios.
Enquanto se refugiava em um canto da cela, na tentativa de ficar a salvo dos roedores e insetos, ficava lembrando da primeira vez que viu a tímida princesa Mary Hellen, passeando pelo jardim do castelo.
O vestido azul-turquesa da filha do rei se movia graciosamente enquanto ela caminhava por entre as flores, e ressaltava ainda mais seus olhos azuis cor-do-céu, a pele clara e a cativante expressão de pureza de seu rosto. E foi naquele momento que Thompson chegava em seu cavalo branco, altivo e garboso em sua armadura de ferro. Ao ver a nobre donzela, foi tomado por forte emoção e imediatamente colheu a rosa mais bonita e ofereceu à moça, que enrubesceu.
- Alteza, aceite essa rosa como prova da minha lealdade e profunda admiração. Uma linda rosa para uma linda princesa!, falou o lorde, com um sorriso sedutor Era o começo de um namoro, com encontros furtivos e troca de cartinhas apaixonadas, intermediadas pela fiel ama. Foram três meses de juras eternas, até o dia em que o rei flagrou os dois se beijando em um dos corredores do grande castelo.
- Mas, o que é isso?! Como ousa beijar a princesa, que está prometida ao rei da Escócia?
- Eu não vou me casar com o rei da Escócia! Prefiro morrer!, retruca a princesa Mary Hellen, caindo em prantos.
- Pois você vai casar com ele, sim! E esse atrevido vai ter a lição que merece! Guardas, levem lorde Thompson para o calabouço, agora!!!
De nada adiantaram os protestos da princesa, nem a promessa do lorde de que queria desposar Mary Hellen para fazê-la muito feliz. Ao lembrar como tudo aconteceu, lord Thompson solta um longo suspiro.
- Tom! Tom! Ele abre os olhos e se espanta ao ver a mulher o chamando. Era como se tivesse voltado do túnel do tempo.
- Estava preocupada com você, amor. Suava frio e se debatia durante o sono... Teve um pesadelo com aqueles alunos bagunceiros de sempre?
- Ah, sim, mas já passou, disse à mulher, com um sorriso enigmático. - Lembrei agora que preciso terminar a minha aula sobre a Idade Média... Acho que vou marcar a prova para semana que vem...