Enquanto em Brasília Gleisi Hoffmann assumia um dos cargos mais importantes do governo federal, seu pai Júlio acompanhava à distância as notícias sobre a filha. Foi informado de sua nomeação pela TV. Contido e de poucas palavras, o aposentado de 72 anos conversou brevemente com a filha pelo celular na terça-feira à noite.
— Demorou um tempão para falar com ela e só deu de dar os parabéns — conta.
Morador de uma casa simples no km 22 da BR-116, bairro de São Roque, em Itaiópolis, no Planalto Norte, seu Júlio ficou surpreso com o anúncio repentino, mas já imaginava que sua filha alcançaria grandes postos.
— Conforme foi crescendo, ela sempre foi ficando mais interessada e participativa na política. O resultado é esse — diz.
Mas seu Júlio conta que não foi dele, ex-representante comercial, que partiu o incentivo para a escolha de vida da filha.
— Isso tudo é coisa do avô materno. Foi ele que apresentou esse mundo para ela. Eu não entendo nada e nunca gostei. Só agora, por causa dela, que presto mais atenção — lembra.
Mesmo assim, um convite da filha o colocou como um dos coordenadores da campanha de Gleisi para o Senado. Foram três meses auxiliando a filha.
— Ali vi como é importante o que ela faz — lembra.
Natural de Mafra, o senhor de sandálias de couro, calça jeans surradas e camisa de lã passou 30 anos de sua vida morando em Curitiba. Depois de se separar, há "vinte e poucos anos", da mãe de Gleisi, dona Getúlia Adga, ele resolveu voltar para terra natal. Hoje, mora sozinho em uma casa onde já funcionou uma escola estadual. Seu principal passatempo é a vida do campo e as poucas cabeças de gado que tem.
— Não tenho muito o que fazer. Daí, acabo cuidando das propriedades, cultivando plantas e cuidando dos animais — explica.
Mesmo ocupado com suas tarefas diárias, seu Júlio vez ou outra vai para Curitiba almoçar com os três filhos, distante 148 quilômetros da cidade. No último domingo, foi uma dessas ocasiões.
— Até brinquei, falando que ela ainda pegaria o lugar do Sarney (presidente do Senado). Mas não imaginava que viraria ministra tão breve.
Agora, o pai orgulhoso já imagina que a filha pode alcançar novas metas.
— Já falam dela para o governo do Paraná. Mas sempre digo para ela primeiro terminar um mandato, antes de começar outro.
Leia a entrevista na íntegra:
A Notícia — O senhor imaginou que um dia teria uma filha ministra? E como presidente da República? Afinal, Dilma já passou pelo mesmo ministério.
Júlio Hoffmann — Esperava que um dia ela pudesse ocupar a cadeira do Sarney, na presidência do Senado. De ministra, nunca tinha pensado não. Agora, quem sabe um dia ela também pode virar presidente. Já falam até em governadora do Paraná.
AN — Como o senhor reagiu à notícia de que sua filha foi indicada para assumir o ministério mais importante do governo? E como soube da informação?
Júlio — Fiquei surpreso até porque foi de repente. Mas ela sempre se preparou muito e sabia que ela ia alcançar grandes objetivos. Soube da notícia pela TV. Estava assistindo ao noticiário e ouvi o nome da minha filha. Fui conferir e vi o anúncio que ela seria a nova ministra da Casa Civil.
AN — Ela sempre teve interesse pela política? O senhor lembra de momentos em que ela manifestou essa vontade?
Júlio — Eu não gosto muito de política. Isso foi coisa do avô paterno, que vivia contando coisas, explicando os fatos para ela. Com o tempo, ela foi apreendendo, estudando e se aprimorando. Foi presidente da União Brasileira dos Estudantes (UNE), trabalhou na Câmara de Vereadores de Curitiba e foi só crescendo a partir daí.
AN — Como a Gleice era na infância?
Júlio — Sempre foi muito astuta, esperta. Uma criança obediente.
AN — Como o senhor acha que sua filha vai executar esse novo papel político? E resistir às pressões do cargo?
Júlio — Ela é competente e íntegra. Está mais que qualificada para fazer tudo certinho e ajudar o País e a presidente Dilma. E pressões sempre existem. Espero que ela aguente bem.
AN — Com que frequência sua filha visita o senhor?
Júlio — Ela vinha bastante quando era criança. Nós trazíamos ela para passar férias. Agora, vem bem menos. De vez em quando, aparece no sítio dela. Sempre que podemos, falamos pelo telefone ou eu vou até Curitiba e visito ela. Não é tanto contato, até porque ela tem vida corrida.
AN — Porque o senhor não foi assistir à posse dela?
Júlio — Só assisti a posse dela no Senado. Agora, a gente nem esperava que ela ocuparia esse cargo.
AN — Qual a relação da família Hoffmann com Santa Catarina. Curitiba é próximo a Joinville...
Júlio — Conhecemos pouco Joinville. Mas a Gleice sempre tentou ajudar todo mundo no Sul do País.
AN — Sua filha costuma passar as férias em Santa Catarina?
Júlio — Antes, quando não era tão envolvida em política, ela vinha mais. Agora, bem de vez em quando ela e o Bernardo vêm pra cá. Mas faz algum tempo da última vez que vieram.
AN — Porque o senhor escolheu Itaiópolis para morar?
Júlio — É do lado onde nasci. Morei 30 anos em Curitiba. Daí queria voltar para minhas origens. Fiquei uns seis anos morando ali no sítio da minha filha, em Mafra, depois vim para onde estou agora. A casa é pequena, mas está bom para mim.
AN — O senhor acompanha a política nacional. Sabia da crise do Palocci. Qual opinião sobre a queda dela?
Júlio — Vejo pouco e só pelo noticiário. Pelo que vi do Palocci, parecia que não tinha nada de errado, que ele fez tudo dentro das regras. Mas tinha muita pressão em cima do nome dele. Tem gente ali que não dá para se meter.
AN — Como o senhor acompanha o trabalho da sua filha? Costuma opinar no trabalho dela?
Júlio — Acompanho pelos jornais e quando a gente fala por telefone. Mas é só isso. Opinar, não. Ela sabe bem o que faz. Só dou conselho para ela cuidar com quem se mete. Para não bater de frente com certos políticos, para coisa não complicar.
AN — O que o senhor faz hoje? Qual sua rotina?
Júlio — Sou aposentado. Daí, não tem muito o que fazer. Todo dia, acordo cedo, faço café, vou mexer nas minhas ferramentas e depois venho fazer almoço. À tarde, dou uma volta nas outras propriedades, olho o gado, converso com os vizinhos.
A NOTÍCIA