Morgana Michels | morgana.santos@santa.com.br
O menino ativo, que aos quatro anos corria na frente da mãe para chegar antes à creche, foi ficando cansado e já não a alcançava mais. Junto com a fadiga, Thomas José da Silva apresentava palidez e manchas roxas nas pernas. Estes foram os primeiros sintomas da leucemia linfoide aguda, percebidos pela enfermeira da creche, que já havia tido um caso da doença na família e sugeriu os exames.
Na terça-feira, 24 de agosto de 2004, o chão se abriu para Irene Aparecida Rodrigues e Celestino da Silva, pais de Thomas. A família do Bairro Velha Grande, em Blumenau, recebeu o resultado do primeiro teste, que deu positivo.
A contraprova confirmou o diagnóstico, e o garoto, hoje com 11 anos, ainda tenta se curar.
Celestino raspou o cabelo para ficar igual ao filho. Achou que esta seria a pior parte:
— Agora, depois de sete anos lutando contra um inimigo invisível, penso que, se fosse só a perda de cabelo, seria bom — diz o pai.
— Na infância, as chances de sucesso no tratamento da leucemia podem chegar a 80%. Mas, se a doença reincide, o mais indicado é fazer o transplante de medula óssea — explica a oncopediatra Marcela de Moraes Barros e Sousa.
Inicialmente, a quimioterapia é mais intensiva e, em alguns casos, é necessário internar. O procedimento dura, em média, dois anos. Mas, se a doença volta, a criança deve ser encaminhada para o transplante.
Doença voltou após primeiro tratamento
O primeiro tratamento de Thomas começou em agosto de 2004 e foi concluído em janeiro de 2007. Após sete meses, a doença voltou.
— Percebemos que o testículo dele estava inchado. Fizemos os exames e foi constatado que era leucemia novamente. A primeira notícia sempre é a pior, pois esperamos algo mais simples de tratar. Mas se ele ficar doente 10 vezes, todas serão muito difíceis — desabafa a mãe.
Sete anos depois do diagnóstico, Thomas está em tratamento e tem reagido bem às sessões de rádio e quimioterapia. Desde outubro de 2010, está à espera de um transplante de medula, mas ainda não foi encontrado um doador com pelo menos 90% de compatibilidade.
O garoto de sorriso largo está na 6ª série. Quando não consegue ir à aula, um colega leva os cadernos para que ele possa copiar as matérias. O maior sonho de Thomas é conseguir um doador para, finalmente, ficar curado e poder jogar bola com os amigos. A chance de encontrar alguém compatível é de uma em 100 mil. Enquanto a hora do transplante não chega, o menino aproveita o tempo livre para jogar videogame, tocar violão, fazer aula de acordeon e assistir aos jogos do time do coração, o Flamengo.
Fila para transplante tem 2 mil
O drama de Thomas é o mesmo de outras 2 mil pessoas que aguardam um transplante de medula óssea no Brasil. Em 2010, 170 portadores de leucemia foram transplantados em todo o país, de acordo com o Registro Brasileiro de Doadores de Medula Óssea (Redome), ligado ao Instituto Nacional de Câncer (Inca). A expectativa para 2011 é de 190 transplantes.
Quando não há um doador aparentado, a solução para o transplante de medula é procurar um compatível no Redome. O ideal é ter um irmão compatível, o que só ocorre em 30% das famílias brasileiras. Para 70% dos pacientes, é necessário identificar um doador alternativo a partir dos registros de voluntários e bancos públicos de sangue de cordão umbilical.
No Brasil, o Redome possui 2,3 milhões de cadastrados. Em SC, 90 mil pessoas fizeram o cadastro.
A medula pode ser retirada do interior dos ossos da bacia por meio de punções com agulhas. O procedimento dura 40 minutos e é feito com anestesia. O doador fica internado 24 horas. Em quatro semanas, a medula se recompõe totalmente.