Era uma vez uma sala de espera de pediatria do posto de Estratégia de Saúde da Família (ESF) do bairro São Rafael. Com uma mala recheada de livros, fantoches e personagens, a professora Vanisse Tureck de Oliveira chega para conquistar a atenção das crianças e até mesmo dos adultos. A iniciativa é realizada pela Prefeitura de Rio Negrinho, que trouxe mais alegria para os pacientes na semana anterior, em comemoração ao dia da criança. O projeto “Hora do Conto” vem sendo desenvolvido anualmente pela profissional nas áreas de educação e saúde com intuito de despertar a imaginação, interesse e amor pela leitura.
Por meio de uma mala, com bolsos de onde saem os principais personagens da história - como a do próprio livro “Menina bonita do laço de fita” da autora Ana Maria Machado -, a professora relata que a ideia surgiu por acaso. “Meu desejo era encontrar uma forma de contar as histórias do meu jeito, que eu me sentisse fazendo o bem por onde fosse passar”, fala. “Eu precisava de algo para colocar os livros e os personagens e aí, como uma ação simples mesmo, coloquei cada um na mala”. Foi com esse passo que Vanisse está levando a literatura por onde passa e a experiência não é pouca: são 17 anos atuando na área de educação, sete com a contação de histórias nas unidades de ensino e dois anos nos postos de saúde.
O contato com a leitura desde criança, geralmente, é por meio das histórias apresentadas, oralmente, por professores e familiares. Essa prática é uma das formas mais benéficas para barrar índices negativos de leitura, segundo dados da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2016, apenas 56% representam a taxa de leitores. Segundo Vanisse, é necessário fortalecer a leitura como forma de hábito. “Esse amor pela leitura só trará resultados positivos no futuro, a criança quando ouve histórias, consegue perceber as diferenças que mostram os personagens bons e maus, facilitando a compreensão de certos valores básicos da conduta humana ou do convívio social”, esclarece.
A professora ainda conta que para a visitação é feito todo um preparo pedagógico. “Antes de narrar a história deve-se abrir o espaço para uma boa conversa. Por exemplo, se escolho contar uma história tocando um violão, as crianças podem interromper dizendo que também tocam ou que conhecem alguém que tem o instrumento”, lembra. Ela ainda reforça que o espaço para as crianças falarem antes da narração é indispensável. Neste momento o “contador” conhece melhor as crianças e concede a oportunidade aos pequenos de falarem. Isto acalma e os prepara para a aventura.
A recepção positiva não foi apenas perceptível com as crianças, os familiares também acompanham os contos. “Várias vezes percebo a curiosidade dos adultos quando vou para algum lugar, principalmente nos postos de saúde, eles interagem e até trazem as crianças para fazer a carteirinha da biblioteca depois”, comemora ela, que atua na Biblioteca Pública Municipal Drº Helládio Olsen Veiga. Quando questionada sobre a importância de seu trabalho, Vanisse não pensa duas vezes. “Os livros têm um papel enorme na vida de uma pessoa e sempre serão uma importante forma de expressar os sentimentos e estimular o hábito da leitura e da alfabetização”.