Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Como medir a passagem do tempo?
Quem sabe pelo tic-tác tic-tác do relógio... Ou pelo dia que vem agraciando a noite e vice-versa. Da passagem crepuscular às primeiras estrelas... Além da escuridão do céu?
O tempo é como a separação silábica: tem-po, um hífen cravado no afastamento do tempo-espaço. Ou, talvez, hipotetizando de forma mais carinhosa e poética: Tem pó.
O tempo é mais ou menos isso, um pó. Grãos de areia que rolam pela orla de uma praia. Tempo é medição ondular das marés. A interferência da lua ao regurgitar das ondas do mar.
A tempestade destes grãos dentro de uma ampulheta, que em seus vértices fundidos deixam-se navegar os desertos e escorrer um fino fio de areia. E, quando o receptáculo inferior se encher... Inverte-se o frasco, e o tempo... Ah, o tempo... Começa outra vez.
Sobre o tempo, dizem algumas pessoas: carrasco! Outros dizem: o melhor amigo.
Talvez não se chegue a um consenso... Bom que assim seja, pois, esta é uma das virtudes humanas... Não colocar um ponto final, mas, vírgulas (,,,) ou três pontos(...), simbolizando a atemporalidade das coisas, a continuidade...
Tempo é reinvenção.
É o verdejar das Cinamomas em cada primavera. O crescer dos seios no corpo das meninas. O desenrolar da voz agudo-grave para com os meninos. A espera de nove meses e mais uma criança nascerá.
Tempo é completar 18 anos para obter a licença para se dirigir. O tempo marcado na parede pelos prisioneiros que enfileiram risquinhos dia após dia à espera da liberdade. O tempo que risca a face em sulcos.
Como medir um tempo que antes parecia ser mais extenso, caudaloso?
Da cauda do Halley que passará por nós só em 2061, isso se nada atrasá-lo. De nós que estamos fazendo as contas se estaremos ainda por aqui. De nós que estamos pensando: quanto tempo até lá?
Que tempo é esse que não encontramos mais tempo?
Será que se fosse aos dias atuais Noé esperaria até o último bicho entrar na arca ou fecharia as portas antes de baixar as primeiras mensagens no WhatsApp?
O que fizeram as pessoas quando as cortinas de ferro se instalaram por 28 anos e separaram em dois uma mesma cidade? Da espera interminável dos pais, dos filhos, esposas, esposos, irmãos, por aqueles que jamais regressariam do violento período do estado totalitário no Brasil?
Esse é o tempo que em que nada se apaga. A existência das cicatrizes psicológicas.
Três pontinhos... A continuidade. Um tempo sem ponto final.
Quanto tempo perdemos contemplando um muro, a sua altura, sua fortificação, sua ideia de separar algo? Quando o que realmente deveríamos fazer é questionarmos: Posso pulá-lo? Devo pulá-lo?... Ou simplesmente: Pulei! Fui Para que um tempo de desunião jamais se repita.
Viremos então à ampulheta do nosso tempo próprio, para que o fino fio de areia escorra em direção de uma nova história, de um novo tempo. Um novo tempo passando pelas frestas do nosso próprio tempo.