Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Einstein, em uma carta escrita à sua irmã e sobrinho por ocasião do falecimento de seu amigo Michele Besso, diz:
“A base da nossa amizade foi assentada nos anos em que estudamos em Zurique, onde nos encontramos regularmente... Nossas conversar durante a caminhada que fazíamos juntos ao voltar para casa tinham um encanto inesquecível... E agora ele precede-me brevemente na despedida deste estranho mundo. Isso nada significa. Para nós, confiantes físicos, a distinção entre passado, presente e futuro é uma mera ilusão, ainda que teimosa”.
A tríade nascer, crescer e morrer, que sustenta as vivências de forma linear e também por assim dizer, lacunar, favorece o conceito de isolamento e fragmentação, e, porque não salientar, a solidão.
Não por acaso Einstein diz “Isso nada significa”, pois, a morte de alguém está recheada de significados incipientes e prematuros, quando por uma questão normativa dizemos que aquilo que termina é o fim de alguma coisa.
Realmente isso nada significa.
Lembro de um momento que o universo de alguma forma se abriu, como se o céu caísse em direção a terra. O ano era 2001. Falecera um querido amigo.
Daquele tempo até agora muitas coisas aconteceram, milhares de pessoas nasceram, algumas estão nascendo no exato momento que eu escrevo esta crônica e, provável que estas mesmas já tenham horas de existência até o instante em que você leitor esteja visualizando estas palavras, e daqui a algum tempo... Nós... Um dia deixaremos de existir.
Tempo. Espaço.
Morte. Vida.
Einstein talvez tenha chegado à conclusão de que tudo está vivo. E não foi o fato da morte de seu amigo, da morte física, que o físico pensou que aquilo realmente fosse o fim, porque o finito é uma mera abstração.
Por conseguinte, é a mesma sensação que tenho desde os anos de 2001 quando entendi que o tempo, espaço, momento, não poderiam ser formas isoladas, mas, uma grande unicidade, pois se ao contrário disso fosse, estaria separando mente de corpo, lembrança de abraços, o fim do começo.
A vida é uma totalidade. Não há como traçar uma linha divisória entre 2001 e 2015, entre Michele e Einstein. Nossa vida, nosso corpo estabelece a unicidade. Somos seres de transcendência e totalidade, protagonista e antagonista. Criador e criatura.
Somos o fim de alguma coisa em que tudo está vivo.