Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Essa é a história de duas pessoas, um homem, uma mulher e entre os dois um sentimento.
Ele todos os dias senta-se por alguns instantes em seu baquinho de Angelim e observa as mudas de flores que vão crescendo em seu quintal. Violetas, Rosas, Clusias...
Chuva ou sol, calor ou frio, tanto faz... Ele olha atenciosamente as sombras se afastarem à medida que o dia se põe a pino na retidão dos ponteiros do relógio, na queda dos segundos ao chamamento da noite, e assim... Ele se despede das flores.
Ela ao acordar passa o seu dia a limpo, quando em um rascunho mental da noite anterior pensava se as escolhas de uma vida teriam quer ser para sempre. Só depois dessa indagação abriria os seus olhos, e, a realidade caia em sua retina como imperativo, dos cuidados com sua casa, do café coado que exalaria seu aroma pelo corredor, depois, e somente depois, pegaria sua filha em seus braços, e contra seu peito pediria que, em silêncio, em sua voz interior, sua filha pudesse ter a insegurança e assim a liberdade seria aprazível como uma companheira de eterna amizade.
Seria mais fácil pensar que nada é para sempre ou que o tempo fosse como um grande apagador, como uma tecla Delete. Seria, mas, existem coisas que são inapagáveis. Seria mais tranquilo viver sem se lembrar ou não ter uma personalidade, pois, tudo fluiria como um imenso Ultraleve que jamais tocaria o chão. Um grande alívio, analgesia, Morfeu dos sentimentos.
Mas, todos os dias enquanto senta em seu banco de Angelim e observa o vento balançar as pequenas flores, sente que entre a distância e o tempo que jamais irão ser consumidos, entre tudo isso, existe um sentimento que há tempo foi plantado como pequenas sementes, uma a uma, e que um dia desabrochou. E no nascer dessas flores, suas folhas tornaram-se perenes.
Do pó que se assenta e o gosto do café é como nascer e morrer a cada dia. Nascer nos olhos de sua filha em mais um gole quente do leite de sua vida. Dos seios de uma vida. E morrer como pó que um dia imaginou que tudo se tornará, como um gigantesco coração desértico, como uma borra do café, uma lágrima negra. Uma vida morna. Uma vida café com leite.
Do doce pólen das flores ao amargo do café. Daquele sentimento entre eles. Das lembranças dos sonhos e da vontade que ambos um dia nutririam um pelo outro. Do gosto levado a boca como um quente café de beijos incandescentes. Do cheiro perfumado das rosas de seus corpos nus e úmidos como relvas da colheita de seus amores... Que nunca se apagou... E com o tempo...
Ele planta Margaridas sentado em seu banquinho de Angelim. Ela adoça seu café com o mel que as abelhas produzem das flores de algum jardim.