Emoticons ̶ Rede de Amizade

Hoje faz um belo dia de sol. Faço esse comentário para com uma pessoa do meu trabalho e não sei se ela prestou a real atenção ao que eu disse, pois, ela estava tão imersa em seu celular enviando um emoticons que, eu poderia ter dito que o sol acabara de explodir e mesmo assim não faria diferença. Talvez, quem sabe, no máximo ela enviaria algo parecido com uma figurinha do bigbang.

Pode até ser bonitinho você receber uma carinha amarela com um sorriso de bom dia, mas, receber um bom dia de quem gosta de você e poder tocar com seus olhos o sorriso de alguém é algo totalmente diferente. Ou será que uma figura de bolo de aniversário com coraçõezinhos e velinhas multicoloridas pode substituir palavras de felicitações?

Cada vez mais quando quer se comentar, ver, ser visto, através das mídias de relações virtuais, cada vez mais parece que as relações ficam reduzidas a mensagens figurativas onde as pessoas tornam-se meras figurantes, a emoticons sem emoções.

Fico com a sensação de que os encontros efetivos, como um campo de presença de contato presente e físico, estão tornando-se coadjuvantes, e o mais importante fica sujeito a figuras quando os olhares não se desviam das telas de um celular ou computador. Estranho saber que a pessoa que está por de trás destas mensagens fica realmente para trás, em segundo plano, apenas um fundo, e não como figura no sentido da gestalt-terapia que clama por atenção e é por sua vez uma necessidade que precisa ser satisfeita.

Acerca deste assunto, Bauman faz um comentário à respeito das relações entre as pessoas quando um jovem o aborda e diz ter mais de quinhentos amigos. Bauman comenta que, em seus mais de oitenta anos, não conseguiu ter quinhentos amigos, e, provavelmente quando o jovem está falando de amizade, e o filósofo de amizade, ambos estão falando de algo totalmente diferente. O primeiro está falando de rede amizades, enquanto o segundo, de laços de amizade. Ou seja, uma coisa é ser amigo de quem mal se conhece e se por acaso tiver uma desavença com essa pessoa é muito simples clicar em um perfil e deletar ela de uma rede de contato. Outra coisa é ser amigo de quem se convive e ouvir coisas dessa pessoa que nem sempre são agradáveis, afinal, como diz o pensador, laços são essas coisas que se ligam por alguma razão e que ficam atadas por alguma razão... Inclusive pela amizade.

Imprescindível dizer que tudo isso é uma forma possível de relação, comunicação. E ao contrário do que supostamente pareça, não sou desfavorável as tecnologias, quando sei que estas estão a serviço de todos, muito como facilitadores e por assim dizer, amenizadores de uma possível distância que em ocasiões outras separariam as pessoas. Contudo, penso que para se entrar em contato com as pessoas e as coisas do mundo é necessário em algum momento saber se desconectar. E que nenhuma figura de um coração rubro ou sorrisos amarelos expressará o verdadeiro sentido de se ter um sorriso ou de um contato amoroso de quem gosta de você. Pois, quando falo em contato e alguém está pensando em rede de contato, saiba que estamos falando de coisas diferentes!