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Michell Foitte

michell_foittehotmail.com

Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta

CRP 12/07911


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Em algum lugar

Quinta, 07 de maio de 2015

 

Eu sei. Começo a acreditar naquelas coisas que tanto debochei dos outros: esquisitices, maluquices.

Tenho certeza agora de que em algum lugar do meu corpo... Nesse lugar imagino como sendo uma espécie de submundo negro, embolorado, úmido... Nesse canto rés, algo em mim pifou. Assim mesmo, pifou!

Mas porque não concertar esse treco? Faço essa pergunta idiota para mim mesmo. Oh, talvez pelo simples fato de que ainda não me especializei na carreira ou ofício, na labuta do entendimento das mentes quebradas. Ah, sim idiota, penso, não existe o engenheiro mecânico para a mecânica das mentes dementes, respondo mais uma vez para mim mesmo.

Esse corpo é algo jurássico e quem sabe não pega no tranco? Poderia tentar, boa ideia, mas como? Eletrochoque, drogas, sexo, sei lá?

São opções, mas, já experimentou desabafar?

Como assim? Parece papo de maricas, desabafar. Daqui a pouco vou estar pedindo para que eu chore compulsivamente em uma cena onde algum otário levou um pé na bunda de seu amor. Aí não rola, não é!

Almofadinha!

Olha aqui, não começa a me chamar assim, seu mauricinho afrescalhado.

Não estou dizendo que você é um almofadinha, estou sugerindo o uso da almofadinha!

Ainda não entendi?

Você pode usar a almofada sobre seus joelhos enquanto estiver sentado, depois desce seu tronco, coloca a cabeça na almofada onde sua boca fique encoberta e grita!

Mas gritar por quê?

Desabafar!

E será que funcionaria para concertar alguma coisa? Pois, não é assim tão simples, gritar e está acabado. Primeiro a almofada não pode ser chamativa com crochê colorido ou babados em rendas. Depois, necessariamente, teria que ser uma almofada singular, dessas bem grossas para que ninguém me ouvisse gritar. Mas, fala sério, o grito de alguém é constrangedor. É como um arroto que escapa sem querer. Por mais que tente se disfarçar, as pessoas sabem que foi você.

Almofada... Sei lá. Penso que o eletrochoque seria menos comprometedor. Talvez seja só uma sinapse em curto, um lapso, uma síncope, talvez o embate entre lados do hemisfério cerebral boêmio e o outro caseiro que estejam danificados?

Ainda não sei ao certo, contudo, penso que um stent ou um fórceps abriria o que está preso, meio... Qual é a palavra mesmo? Ah sim... Entupido! Para isso precisaria de um desentupidor, daqueles que se usa nas privadas quando tudo vai acumulando, acumulando... O ser humano tem dessas coisas: um monte de merda acumulada.

Esquisitices, maluquices. Já começo a achar que são lugares comuns.

Posso até usar a almofada, porém, não sei por que ou por quem ou para quem gritar, justo quando minha vida é sem grandes histórias, tragédias, amores.

Bastaria gritar apenas porque é preciso?

Quem sabe devesse tentar. E quem sabe nesse processo imagens ou sensações não povoariam algumas de suas lembranças?

Têm pessoas que quebram coisas, colecionam selos, que têm intolerância ao leite, enfim, tudo é possível.

E se mesmo gritando essas coisas que estou sentindo não passarem? E se as pessoas ao meu redor me acharem maluco por estar gritando?

Meu Deus, que horas são agora? 18:00? Parece bom usar a almofada nesse horário. A maioria das pessoas está com pressa de sair do trabalho, buscar seus filhos no colégio, pegar ônibus, cuspir chicletes no chão, dar uma tragada no cigarro, deixar suas vidas plastificadas para trás.

Vai porra, não enrola, usa a almofada!

Deixe-me ver se ninguém está me vendo?

E se o meu grito for um berro acumulado, como um grande desentupidor de privadas, se for um sonoro enfezado?

Vai, toma ar, respira e grita!

Mas pode ser um grito agudo, tipo quando se solta o ar aos poucos de uma bexiga que se esvai lentamente até ficar murcha.

Mas essa é a intenção: esvaziar. O que estava pensando que iria acontecer?

Sei lá, algo como outra dimensão, que levaria meu corpo para algum lugar diferente. E se nada encontrar depois? Ou apenas for um grande vazio?

Talvez porque o vazio tenha algum sentido de ser assim, um vazio.

Está bem, então vai!

Foi.

E como foi?

Um pouco estranho. Quanto tempo durou?

Não importa o tempo, comprimento, intensidade. Importante é que foi.

Tem razão. Parece justo. Algo que precisava ser ajustado.

E depois daqui... Uma bebida, um psicólogo, psicoativo, a vida superficial de sempre, um desentupidor... Alguma coisa?

O depois não sei, mas o agora em algum lugar em mim já é o suficiente.



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