Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
̶̶̶ Ai ai, não da mais...
̶ O quê?
̶ Não aguento mais ficar sem fazer nada.
̶ E que mal há nisso... Ficar no ócio?
̶ Ah, é tedioso demais.
̶ Mas você não está aqui para descansar?
̶ Tudo tem um limite. Além disso, minhas costas estão doendo de tanto tempo que estou deitado.
̶ E o que você vai fazer?
̶ Sei lá... Esticar as pernas, dar uma banda por aí, balançar o esqueleto...
̶ Você não está pensando em...
̶ Exatamente, fugir daqui!
̶ Meu velho, pense bem. Talvez não tenhamos mais saúde para esse tipo de aventura.
̶ Você esta amarelando?
̶ Apenas estou sendo prudente. Lembra o que aconteceu com o Agenor, não lembra?
̶ Mas o Agenor vacilou.
̶ Vacilou como? Ele foi pego de surpresa por um cachorro que mordeu sua fíbula.
̶ É por isso que estou dizendo que é algo que precisa ser planejado com antecedência. E nesse tempo que estamos aqui, já pensei em tudo.
̶ Então fala, vai!
̶ Sairemos daqui sendo nós mesmos.
̶ Você enlouqueceu, só pode!
̶ Por que tamanho espanto?
̶ Olhe para nós e diga com o que parecemos?
̶ Mas...
̶ Responda!
̶ Tá, tá, tá... Somos dois sujeitos...
̶ Sim... Estou esperando!
̶ Dois sujeitos magros e...
̶ E o que mais?
̶ Magros e esbeltos?
̶ Magros e esbeltos e mais algum detalhe?
̶ Está bem... Somos duas caveiras. Defuntos cadavéricos. Somos apenas osso e osso e estamos enterrados um do lado do outro. Somos vizinhos de covas.
̶ Agora sim. Respondido isso, acha que a sua ideia de simplesmente sair daqui sendo duas caveiras ambulantes vai dar certo?
̶ E se não pagarmos o aluguel das catacumbas, será que teríamos a possibilidade de sermos despejados?