Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Era previsível aquele temor. Juninho fora sempre ansioso. Refletia sua inquietação nas unhas roídas.
Seus pais perderam a conta dos inúmeros terapeutas que atenderam o púbere nas suas investidas de aflição e desconforto frente às situações novas.
E com certeza, não seria diferente agora, nesse momento colossal, sublime, de uma nova etapa de vida... O primeiro dia de aula.
– Estou preocupada com o Juninho.
– Martha, você se preocupa de mais, assim o guri nunca vai crescer.
– Mas esse é um momento todo especial...
– Claro que é especial, mas, também normal.
– É como se estivéssemos perdendo nosso filho.
– Martha, não está sendo muito dramática?
– É que não foi você que carregou ele durante nove meses em seu corpo.
– Mas a vida sem um pouco de desprendimento não vai para frente! De que adiantaria uma nau se um dia não cortassem as cordas que a prendem em terra firme? Entende... Jamais seria uma embarcação sem o corte desse cordão umbilical.
– Mas é que o Juninho é tão ansioso...
– Ele ou você, Martha?
– Não posso negar que sou também um pouco apreensiva, contudo, me preocupo se ele será bem tratado pelos coleguinhas de classe, se ele comerá no horário certo, se ele não se machucará nos brinquedos, se ele irá lembrar-se de lavar bem as mãos antes e depois de ir ao banheiro. Escovar os dentes, não roer as unhas, não tirar meleca do nariz...
– Martha!
– Será que ele se lembrará de amarrar o tênis.
– Martha!
– O que foi?
– O Juninho está indo para o primeiro dia de aula do curso de Engenharia Civil.