Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Foi assim que a vi.
Ela ao centro, com seu corpo esticado, de comprido.
Alguma decoração a rodeava. Ela agora era apenas imobilidade.
Aproximei-me para vê-la com mais cuidado. Não a toquei. Achei que não era o momento. Ninguém havia ainda encostado nela.
Ocasionalmente, tantos os homens quanto as mulheres que estavam ao seu redor cochichavam. Nesses momentos a conversa dilui-se em vários assuntos. Futebol, moda, corrupção, Fórmula-1. A situação fazia a ocasião. Piadas? Ah sim, até piadas.
Concentrei-me em seu corpo, languido. Era um corpo amorenado. Era um corpo que se perguntava o porquê? Porque comigo? Porque tão cedo?
Eram as perguntas que todos tentavam responder.
Era tão jovem e deveria ter tantas qualidades, mas, que foram ceifadas em plena vida.
Ela lá... Deitada e tão quieta.
Passos. Um pé após outro. Aproximou-se alguém que disse:
– Peituda!
Pensei que não seria o momento para o comentário. Furtivo, dissimulado. Era uma explanação desrespeitosa, porém, não sem sentido. Realmente era um corpo com suas proporções generosas.
Outra pessoa chega e diz:
– Coxas deliciosas... Ai que vontade!
Outros comentários foram aparecendo. E ela ao centro, languescida, de comprido, amorenada, com seu corpo a mostra, ao nu.
Não demorou a tocarem seu corpo. Era tempo demais de espera e de olhares para aquela forma onde os olhares se dirigiam. Olhares que a comiam.
Confesso, não aguentei. Logo arranquei uma de suas pernas. Um padre que lá se encontrava cortou um dos peitos. As demais pessoas foram destrinchando-a.
Foi assim que a vi naquele dia. Deitada ao centro. Onde os olhares cruzavam seu corpo.
Foi sem dúvida uma das melhores galinhas que eu já comi em toda a minha vida. Acompanhei também com polenta frita e um bom vinho.