Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Para onde estão me levando? – penso.
Mas afinal... Quem sou eu? Qual é meu nome?
– Acalme-se! – diz alguém que parece me socorrer. Não consigo falar para dizer que estou calmo e para perguntar quem sou eu afinal... Concluo que sou mudo! Mas me resta a esperança de ser apenas uma perda momentânea da voz provocada por algum tipo de estresse. Mas o acalme-se – estou pensando novamente – vem da voz de uma mulher loira e de olhos esverdeados que acompanha a maca. Será que é minha esposa? Loira, jovem, olhos claros, peituda – ah sim, reparei os peitos. Devo ser homem. Será? Penso demais... Isso não é bom sinal. Pensar não é muito masculino, ou, será que é apenas uma convenção machista. Mas e os peitos? – estou questionando a mim mesmo – O que têm os peitos? Sei lá, apenas reparei na simetria, volume... São bonitos. E reparou em algo mais? – Um lápis delineando os olhos, maquiagem leve, um perfume suave, um pingente. – Quanta observação... Isso também não é muito masculino – Será que somos homem? – pergunta o eu para eu mesmo. Começo a ficar com duvidas... Se ao menos pudéssemos dar uma apalpada lá embaixo, mas, nos amarraram nessa maca... Mas, vamos tentar levantar um pouquinho uma das mãos... Deixe-me ver... Unhas bem aparadas, mas sem tinturas... Não temos muito pelo nas mãos... Mas muitos homens também não têm. – É verdade. Mulher então? – Ainda não dá para afirmar. Quem sabe o bolso? – O que é que tem o bolso? – É como fazer psicoterapia? – Como assim? – Depende o que se encontra lá diz muito sobre quem você é? – Está bem... Mãos à obra... Uhm... Mas o que é isso... Um clips? Um clips não nos diz nada. Têm outras coisas aqui... Um papelzinho. – Que tipo de papel? – Um guardanapo. – Consegue olhar de soslaio para ver se há algo nele? – Estou tentando... Deixe-me ver... Ahm sim... Um número. – Qual número? – 99961298. – Te faz lembrar algo? – Não! – É de telefone celular, número de conta bancária, previdência social? – Não me recordo, mas olha no verso! – O que tem no verso? – Uma marca de batom. – Sinistro tudo isso. Um guardanapo com um número desconhecido e uma marca de batom. – Quem sabe alguma mulher nos deu seu telefone e beijou o guardanapo como uma lembrança provocativa? – Ou... Somos a tal mulher com lábios carnudos que deixou uma marca de batom no guardanapo e que iria entregar para algum homem, porém, por algum motivo o guardou no bolso? – Aqueles peitos não são nossos! – O quê? – Os peitos... Simétricos, volumosos... Da loira. Lembra? Ela é enfermeira. Vi no crachá. – Está cada vez mais confuso. Encontrou algo a mais no bolso? – Uma moeda de 0,50 centavos e um chiclete tuti-fruti. – Chiclete tuti-fruti? – Foi o que eu disse. – É que isso é meio... – Não acho! – Está bem... Não vou tirar conclusões precipitadas. – Tive uma ideia! – Qual? – Estou tentando visualizar a roupa que estamos usando. Pela sexualidade do traje conseguiremos saber se somos homem ou mulher. – Perfeito... Já identificou? – Uhm... Estou tentando... – Já conseguiu? – Ainda não... É que a roupa pode ser usada tanto por homens ou mulheres. – Mas como assim? – Consigo ver um tipo de paletozinho que caberia tanto em um homem quanto para uma mulher. – Diga-me que estamos de saia ou com alguma vestimenta dessas que os soldados usam, pois, daria para nos diagnosticar? – Lamento, apenas estamos usando uma calça jeans! – Cueca ou calcinha, pela textura não da para saber? – Sem chance. E ainda poderíamos ser Francês. – E o que tem a ver ser ou não Francês? – É que os Franceses homens estão usando cuecas de renda para agradar as mulheres... – Espera um pouco, olha... Está vindo uma mulher chorando ao nosso encontro... Ah ah... É a nossa esposa... Fim do mistério... Somos homem! – Mas o que é aquilo, quer dizer... Aquele? Também vem um homem chorando ao nosso encontro? – Calma, muita calma. Vamos esperar e eles vão dizer o nosso nome e assim saberemos se somos homem ou mulher.
O homem e a mulher chorando copiosamente se apóiam na beirada da maca e dizem quase ao mesmo tempo:
– Que bom que você está bem Avanir.
– Foi o que ouvi? – diz o eu para o seu eu mesmo – Sim... Não é agora que saberemos se somos homem ou mulher...