Odisséia no espaço

Espaço. Todos estão procurando. Espaço escrito com espaçamento entre os caracteres, Caps Look e Negrito, tudo para destacar bem: E S P A Ç O.

Das ruas principais às ruas vicinais, às margens direitas ou esquerdas, ufa, uma vaga para estacionar, um espaço entre tantos outros carros.

As ruas como artérias, os carros os glóbulos brancos, vermelhos, plaquetas, placas de trânsito, placas de gordura. Todos estão procurando algum espaço para se aderir. Os espaços entre as ventosas da sanguessuga.

Aparelho nos dentes para abrir espaço. Retro escavadeira, terraplanagem, árvore derrubada, gado no pasto. Prédios, árvores replantadas com auxílio do adubo de árvores tombadas, mais uma rua asfaltada como uma veia entupida, congestionamento, filas, fórceps.

Dia de calor. A temperatura sobe, o suor desce o rosto. As sombras sob os ramalhos estão todas ocupadas.  Guarda sol... Mas onde colocá-los quando não há mais espaço na areia?

Um espermatozóide dribla um, dois, três milhões de caudalosos precisando de espaço para penetrar o óvulo e lá fecundar. Namorar, casar, ter filhos, cachorro, um jardim, espaço... Foi pro espaço o espaço próprio.

Uma perfuratriz no pré-sal em um espaço de tempo entre nós humanos e os dinossauros. Um espaço de tempo relativo. O mesmo sedimento no fundo de algum lugar escuro. O tic-tac do relógio.

Uma briga constante. Zyklon B, AK 47, U2, Mauser, Mouse sem fio. Tudo uma questão de espaço. Brigas por terra. Com os mais médicos. Com aqueles que precisam de médicos, de carteira de trabalho, comida, água, emprego. Daqueles que vêm de tantos outros países migrando para o nosso disputando um espaço que é nosso. Nós que migramos para outro lugar e ocupamos o espaço dos outros. 

Verdades, moralidades, artes, mentiras, estupro, mortes, vida, violência, sangue, pus, lama, pensamento, amor. É preciso de espaço para tudo isso.

Alguns Clicks em algum perfil. Uma flor de plástico que fotossintetiza artificialidade.

É preciso estudar mais e mais. Graduação, pós, mestrado, doutorado, pós-doutorado, etc, etc, etc, pois ao contrário ficaremos sem espaço no mercado de trabalho e os outros nos comerão como vermes em uma cova funda e escura.

É necessário consumir a moda irredutível e tirana. Os eletrônicos, pílulas para dormir, as novas síndromes. Faltará espaço na minha carteira para com os novos cartões de crédito das contas bancárias no vermelho. A vida é azul?

Um querendo o espaço do outro como animais territorialistas que se devoram. É a morte de um lobo que se torna comida para a matilha. A rasteira, o passa pé, o puxar de tapete.

Há pouco espaço dentro de nós. Olho para fora, para além desse planeta e lá no espaço, na imensidão da galáxia percebo as bilhões de estrelas, imensuráveis, vejo que nenhuma se sobrepõe a outra... Há espaço. Uma Supernova.