Diálogo

Naquelas poltronas nos encontramos. Um de frente para o outro.

Eu já estava acomodado, vendo os figurinos de roupas de um panfleto que havia pegado de uma dessas lojas de vestuário quando ele chegou.

Sentou-se e educadamente acenou com a cabeça num respeitoso sinal de: boa noite.

O mesmo trejeito e retribui: boa noite.

Olhamo-nos, cruzamos as pernas, e começamos a conversar sem trocar uma só palavra.

Antes que alguém pergunte, não éramos mudos.

– Sua mulher está fazendo compras e você está descansando as pernas, acertei?

– Na mosca! – respondi – Sabe como elas são, escolhem, escolhem e dificilmente se decidem por algo. E quando encontram alguma coisa que mais ou menos lhes desperta a atenção, vem nos chamar para pedir opinião, não que isso resolvesse as dúvidas delas, pois, toda vez elas escolhem o contrário daquilo que apreciamos.

Meu amigo sorriu.

O que parece estranho para alguns, para os homens é corriqueiro... Conversar sem trocar uma só palavrinha.

É notório nas partidas de futebol visto em frente a um televisor, entre os homens há toda uma troca de ideias, debates técnicos, xingamentos, sem haver conversa. Visto que, com os técnicos de vários esportes é a mesma coisa, no máximo há uma mímica, uma caneta rabiscando uma prancheta, que completa aquele silêncio.

Como seria maravilhoso um debate político somente com trocas alfinetadas de olhares...

– Percebi que não consegue dobrar normalmente a perna. Algum problema físico?

– Reumatismo!

– Entendo... Ainda mais quando esfria o tempo.

– E o Botafogo, está feio, perdeu novamente.

– Má administração, corrupção, jogos de interesses, salários atrasados. Não há time que vai jogar dessa forma.

Por conta dessa idiossincrasia, que nos filmes de ação pouco se fala, talvez por esse mesmo motivo que a maioria das mulheres detesta assistir. Um tiro, um mata-leão, uma perseguição de carro, o olhar de peixe morto do Sylvester Stallone – a paralisia do lado esquerdo do rosto do ator faz toda a diferença – em Rocky, tudo isso diz tudo sem se dizer nada.

– Quem sabe um chope enquanto elas estão por aí?

– Ótima ideia, vamos...

Uma voz se pronuncia na porta da loja de roupas:

– Amor... Estou em dúvida entre essas peças aqui, pode me ajudar a escolher?

Olhamo-nos um de frente para o outro. Descruzamos as pernas. Dou uma boa noite que é educadamente seguido pela retribuição. Agradeço pela conversa e que ficaria para uma próxima a bebida. Um simples aceno de cabeça resume nosso diálogo.