Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Passo. Um passo, em seguida outro. O vento que passa raspando o rosto. Contornando o corpo. Um sopro de ar quando as passadas aumentam.
Intensifica a respiração. Corre. Escorre o suor. O sol percorre o horizonte no começo da manhã.
Pessoas. Vêem-se tantas pessoas. Tantos passos alcançando o chão. Vencendo o chão.
Não. Realmente não são os meus passos. Não no mesmo chão. Os meus passos sãos os nãos que se afastam à medida que o horizonte se aproxima. Apenas observo. Sou como o sol poente que vai... Vai se afastando lentamente. São esses passos lentos, meus, que estão (in)alcançando o chão, porque, apenas alcançam a dor e a dor alcança o corpo.
São como um desvão do mundo. Ambos vão. Andam de mãos dadas. Dor e corpo. Inseparáveis. Não unidas, mas, fundidas. A cada passo inseparavelmente a dor. Invejo cada novo passo dado por uma nova pessoa. (In)vejo o outro. Sei que um dia já dei passos ao vento. (In)ventei passos. Mas como quase tudo... Tudo passa.
Assim como os passos deixados na areia, às margens do oceano que um dia bebeu minhas pegadas.
Dor e prazer parecem nascer da mesma semente. O prazer no desprazer alheio. A felicidade na dor, a dor na felicidade. Embora, como muitos pensam, não vejo aprendizado na dor, mas, uma fragmentação do ser humano. A dor não torna ninguém ciente do que é ser um ser humano de carne e osso. Ou será que somos semideuses? Não, a dor é apenas sofrimento.
Pode até ser que a ausência de alguém ou algo possa vir a doer, contudo, jamais sentiria dor com a ausência da dor. Ao contrário, seria apenas prazer... A ausência da dor.
As dores têm vários nomes que se fundem em uma só nomenclatura: dor.
Anquilosante. Essa é a minha dor. Do Grego “ Ankylos” e significa soldagem, fusão. Espondilite Anquilosante. Aniquilante quando a dor é lancinante.
Imobilizante? Talvez, pois, ela move o corpo em direção a raiva, a angústia, tristeza, à fragmentação. Isso! Um fragmento. Dividir pequenas partes do todo. A divisa. A dor é algo que divide o ser humano. O Prazer do desprazer. A vida da não vida. O amanhecer do poente.
Por conta da dor, seja ela de qual modo ou intensidade for, muitas pessoas procuram o não viver pelo fato de não terem mais qualidade de vida. Não é a morte o que desejam, mas, matar a dor. Não se pode julgar.
A dor tem suas próprias dimensões que rompem muitas das vezes com os sentimentos e ritmos de vida. A dor contínua, crônica, tem sempre um sentido de desconstrução na vida das pessoas.
As dores têm suas próprias personalidades e afetam não só quem a sente, mas quem está na dinâmica familiar, por exemplo.
As dores podem não provocar a morte, mas, de uma forma encurtam o significado da vida.
Dor...
Já é quase a estação passada. Sei que a dor vai oprimir mais uma vez, então, dou mais um passo, o desprazer no prazer, mais um passo...