Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Quando se pensa em sexualidade, temos que atrelar a influência sócioeconômica e a de capital, que são características e, principalmente esta última, carregadas em sua essência pela lucratividade, herdadas do ideal da sociedade capitalista e de consumo. E quando temos essa configuração podemos ir para um entendimento de como as relações se produzem.
Nesse sentido, o que isso teria haver com o HIV/AIDS?
Parte desse todo é justamente como ainda se pensa essa estrutura. Seu funcionamento reflete como as relações sexuais são vistas e aprendidas, como parte de um lucro... A potência sexual, o orgasmo, como ênfase no resultado. O produto final e acabado do ponto de vista do capitalismo. Algo a ser executado e derradeiro. Uma corrida contra o tempo, ditado muitas vezes por um ideal utópico de ritmos e frequência.
Ainda contextualizando, estamos próximos da banalização da sexualidade. Percebe-se que na sociedade atual, ocidental, há uma crescente em direção ao consumo, uma imposição pelas questões midiáticas do tamanho e forma do corpo, as comparações das inovações das posições sexuais. Os parâmetros absurdos nos critérios quantitativos de quantos homens ou mulheres o sujeito pegou, com quantos (as) transou, quantas vezes gozou? A capacidade sexual enquanto êxito social. Esses critérios são justamente a ausência de critérios, da criticidade.
O HIV/AIDS, assim como o câncer, a diabetes, o consumo excessivo de álcool, ácido, cigarro, enfim, podem matar. Tudo isso é uma questão social e está interligada ao nosso dia a dia. Quando alguém que perdeu a criticidade após a ingestão de álcool e ou o uso de outras drogas, pega a direção de um veículo, furando semáforos, ultrapassando em lugares impróprios, colocando a vida de terceiros em risco, enfim; acham que essa pessoa fará uso de um simples preservativo para se prevenir ou prevenir os outros?
Estamos intimamente ligados, inter-relacionados ao nosso ambiente, ao nosso modo de viver sócio-cultural. O ser humano como um ser social, historicamente influenciado, capaz de ser transformado e de transformar a realidade na qual está inserido.
Em tempos de uma sociedade de consumo onde se enfatiza a aparência, a essência fica sobrepujada e impossibilitada. Diante da realidade como o HIV/AIDS se faz necessárias mudanças em termos de conceitos. E isso não incapacita de modo algum, o encontro afetivo-sexual das pessoas, as vivências das várias formas de encontro entre os indivíduos. Mas, frente às informações que são subtraídas.
Ou seja, o Brasil está doente, seja na busca desenfreada e inalcançável pela aparência, pelo modelo consumista, pelos abortos clandestinos, pela corrupção, pela mortalidade no trânsito, pelo consumo de álcool e outras substâncias psicoativas, e ainda mais doente de desinformação, de informação incorreta e preconceituosa, da visão deformada ou de um reducionismo acerca do HIV/AIDS.
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Michell Foitte.
Psicólogo Clínico com especialização em Gestalt-terapia.
Psicólogo do CEAP – Centro Especializado em Aconselhamento e Prevenção DST/HIV/AIDS do Município de Palhoça – SC.
Escritor.