Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Desperto. Abro os olhos. Ainda é cedo. Meus sonhos ainda permanecem como resquícios de alguma coisa semi-consciente. Lentamente retiro meu braço de sobre seu corpo. Nada como seus olhos ainda fechados pela manhã me fazem mais feliz. Nada se compara. Dorme. Digo coisas te olhando que talvez você nem ouça. É apenas uma fração de um tempo. De uma fração de nossas vidas. De uma fração do quanto eu te amo. Apenas uma fração de segundos para o dia raiar. Levanto. Passos sobre passos. Silenciosamente passos que passam pelo seu lado e você nem percebe. Mas lá estou eu. Tateio a coberta e te cubro em sono profundo. Olho rente ao chão e a claridade abaixo da porta indica que mais um dia nasceu. Cá estamos nós em mais um dia. Memórias. Uma criança. Um amigo. Lembro de tudo em uma fração de tempo. Jovens. Juras de amor. Sim. Lembranças. Lembro de todas as vezes que te amei. De todas as vezes que te perdi. Velhas nuvens acidentadas sobre o céu. Dia após dia. Nuvens sem tempestades. Verões. Invernos. Das folhas que caem no outono. De cada estação passada. Do verde da primavera. Dos teus olhos castanhos que repousam nesta doce estação de nossas vidas. Sim. Estamos em outras estações. De repente o cheiro da casa da minha avó me inunda o pensamento. Já faz tanto tempo que nem sei se é o mesmo aroma que um dia eu senti. Penso que meu corpo possa estar me enganando. De repente o cheiro novamente. Não é a casa. É algo que vai além. Não fraqueje corpo! Digo para mim mesmo. Era o cheiro da minha avó. Era o cheiro dela que pareceu me perfumar. Já faz tanto tempo. Penso. Sorrio. Não me lembraria dela se não fosse por seu cheiro. Que estranho modo de se lembrar alguém? Ela já se foi em estações passadas que não passam. Memórias. Olho novamente para você meu amor. Rosa perfumada. Rosa Elisabetana. Que amo como amor peregrino. Que me veste como velhas roupas confortáveis. Que me calça como velhas sandálias. Como o perfume do teu vestido de milhares de maneiras de carinhos. Como o seu odor me inventa a imaginação e ternura. Ainda dorme. Toco suas mãos sem querer te acordar. São acordes para que descanse minha amada. Sento-me ao teu lado. Esperar-te-ei acordar. Esperar-te-ei o tempo que for necessário. Pois um dia partiremos. Haverá lágrimas, sim. Nossos olhos choverão, sim. Um dia acordaremos em outras estações, sim. Mas por enquanto te espero acordar e meus braços estarem preparados para te abraçar e dizer o quanto te amo. Enquanto te espero, descansa meu amor.