O Sol de cada um

Fecho os lhos. Inclino a cabeça para trás e sinto a luz penetrar minhas pálpebras, então, sei que é quase sol do meio-dia. Logo em seguida o almoço, depois, mais alguns instantes fotossintetizando junto a um café esfumaçante.

Trago a lembrança dos anos confinados sem poder aproveitar do calor do sol. Da sombra, essa sim se aproveitou do meu corpo impotente das transgressões da luminescência.

Quantas horas corriam enquanto o sol se afugentava? Quantas horas passei debruçado em livros, trabalhando, escrevendo, atendendo, fazendo “lob”, “lobby”? Vestido de sombras, sobras e mofo? Certo de que foram várias e várias horas.

Percebo que não da mais para usar um traje de sombras em dias de sol.

Há quem não goste do inverno. Dizem que seus corpos ficam entrevados, endurecidos, encarangados, rijos, doloridos. E quando chega o verão, o lado oposto desta estação com temperaturas baixas, não saem das proximidades do ar-condicionado.

Divergências à parte. O inverno tem um cheiro solar à bufadas de um vento arrepiante em que muitas pessoas têm o prazer de desfrutar.

Esse céu límpido azul do inverno sem as nuvens espessas e carregadas são as razões para o meu querer tão bem essa estação. Porque não é apenas um céu límpido, mas a minha vida que transborda claridade e sentimentos mais leves, claros e aconchegantes.

É a estação onde realmente sente-se num abraço o quanto o calor humano faz tão bem.

Compreendo cada vez mais a palavra: Sombrio. O que nada tem relação com o frio do inverno, pois, poderia ser sombrio de baixo de um sombreiro em pleno tórrido verão. Sombrio é a ocupação solitária de um lugar onde mesmo a sombra de cada um de nós desapareceu. Ao contrário, enquanto sorrio bobamente ao meu lugar ao sol e como companheira inseparável a mim mesmo está a minha sombra. Sei que existo por ela, pelo sol que me faz a ventura.

Sol... Volte a brilhar em dias de inverno e quando estiver em outras estações. Volte-se e me cubra com seu calor, sua claridade.

É o que a vida realmente quer... Que todos possam realizar as audácias de viver, com as aspirações e o calor em suas almas, até um novo dia de sol se levantar hoje, amanhã e depois.