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Michell Foitte

michell_foittehotmail.com

Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta

CRP 12/07911


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Cuida de mim

Quarta, 28 de maio de 2014


Foram as suas últimas palavras: cuide bem dele.

Prometi, mas não havia avaliado muito bem o que era cuidar de alguém. De alguém com pouca idade e tão pequeno.

Tinha minha vida e a administrava do meu jeito, afinal, eu já era adulto e construíra neuroses e hábitos que jamais pensei que iriam mudar. Estava estacionado em um lugar de conforto vital, onde repousava uma paz tão serena a qual pensava que jamais acabaria. Mas as palavras têm uma força que ressoava em meus ouvidos, reverberavam... Cuide bem dele.

Quando me dei conta ele já estava lá em casa. Assustei-me. Havia tempos que eu não fazia algo assim, sem medir as consequências ou chegar a uma conclusão antes mesmo do todo ter o seu desfecho. Ainda tentei fazer uma reflexão, racionalizar como sempre, porém, fui vencido por algo maior, um poder instintivo que pensei ter perdido, afinal eu viva em meu cotidiano de mesmices.

Já em casa ambos nos olhamos. Os seus olhos eram pupilas que caminhavam sobre questionamentos. Os meus sobre dúvidas do tipo: a que horas ele dorme? O que ele come? A que horas acorda? Com que se diverte?

E mais uma vez por aquele poder quase mágico fui conduzido. Instintivamente deixei que o tempo me mostrasse como agir. E aos poucos, de alguma forma, minha vida foi ficando menos quadradinha com seus ângulos retos e lados iguais.

Acordava no meio da noite e podia ouvir o seu choro que vinha do quarto. Às vezes vinham da sala, do banheiro. Dei “tempo ao tempo”, pois, o tempo do outro é exatamente um tempo outro que pouco se entende.

Alguns dias se passaram e numa manhã pude ouvir os seus passos pelo corredor. Passos lentos que chegaram a minha porta. Ele a abriu e ficou me olhando enquanto eu ainda permanecia deitado. Entendi instantaneamente... Ele se sentia só. Precisava da companhia de alguém. Fiz um sinal para se aproximar e ele pulou alegremente em minha cama, onde adormeceu.

Era a máxima, tempo ao tempo, se transformando em realidade.

Nesse sentido, pensando bem, nunca escolhi cuidar dele, mas, foi ele quem aceitou ser cuidado por mim. Quando as dúvidas começaram a ser insignificantes foi o momento que entendi que ele tinha me adotado. Acho que no fundo cuidamos um do outro.

Quinze anos passaram e no termo foi ele quem primeiro partiu, por fim, cumpriria com o prometido de cuidar bem dele.

Jamais senti tamanha lealdade... Amizade. E provável que encontraria isso em poucos humanos.

E mesmo no fim, enquanto enterrava seu pequeno corpo canino em frente às laranjeiras do meu quintal, passando mais uma vez minhas mãos por seu pêlo distinto... Entre lágrimas agradeci por ele ter cuidado tão bem de mim.



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