Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
A generosidade é a irmã da amizade, só sei disso porque tenho amigos, poucos, porém, de uma amizade que perdura há tempos, e no meu desejo essas serão para sempre.
Isso quer dizer que, assim como a amizade, a generosidade é aquela coisa estranha que eu não escolho, mas sou escolhido sem ao menos pedir por isso e aceito sem exigir condições?
Sim!
Sei que não é exatamente muito fácil nos dias atuais confiar em alguém, principalmente quando há uma demanda, um pedido de seja meu amigo, seja generoso com o próximo, etc. Como era mesmo o ditado, “quando a esmola é demais...”
A generosidade não é um sentimentalismo, pieguice. A generosidade vem em trotes lentos...
No mês de Dezembro do ano de 2009, eu pedalava pela ciclovia na Beira-Mar Norte, quando a corrente da bicicleta prendeu entre o cubo traseiro e o quadro, trancando as marchas e os pedais. Foi preciso botar a mão na graxa! Puxei com toda a força e nada. Ainda estava tentando soltar a corrente quando escutei algo que parecia ser um quadrúpede. Não era o papai Noel e suas Renas, mas quase, porque logo ao meu lado parou um senhor com seu cavalo que transportava na carroça materiais reciclados.
Esse senhor de barba mal feita, saltou da carroça e com uma chave de boca que tinha tirado de dentro uma maletinha toda rasgada, afrouxou o parafuso da roda traseira da bicicleta, soltando à corrente.
O reciclador ainda me falou algo que eu hoje não consigo lembrar, não importa, pois, o seu gesto se sobrepôs a qualquer palavra. E a única coisa que eu pude fazer foi dizer a aquele senhor o meu muito obrigado.
E a generosidade se foi em trotes lentos naquela carroça cheia de papelões e plásticos. Consorte, naquele dia e em tantos outros, a generosidade jamais se esvaiu de mim, porque descobri o real valor do ser humano, e não era com renas e sim a cavalo, e não transportava presentes empacotados, mas material para ser reciclado e algo que só a generosidade ou a amizade pode oferecer: que é acrescentar algo a alguém sem que haja a necessidade de se receber algo em troca.
Um feliz Natal a todos.
(Texto de Michell Foitte publicado no Jornal Evolução em Dezembro de 2011. O autor está de férias e retornará em Janeiro de 2014).