Um país do Quase*

O Brasil é o país do quase, mas, existe aquilo que quase só acontece comigo, e, aquilo que quase acontece com todo o brasileiro.

Exemplo do que quase só acontece comigo: minha namorada quase não teve a dita T.P.M nesse mês, o que iria ser extraordinário caso eu não tivesse respingado refrigerante em cima do sofá.  O olhar que ela me lançou quase me fez borrar as calças. Eu não sabia se lambia o estofado ou saia correndo.

Outro exemplo ocorrido foi com o meu Vascão. 100% de aproveitamento no primeiro turno até pegar o Flu. O Vasco quase ficou campeão da taça Guanabara, ou seja, mais uma vez vice ou semi-campeão, em outras palavras, quase.

Mas há aquele quase que acontece com todo o brasileiro. Vamos aos casos. Segunda-feira acordo atrasado, pois, o relógio “zerou” na madrugada, tudo porque a empresa de abastecimento de energia ― do governo ― quase funcionou. Por conta desse atraso, quase levo uma bronca do chefe, porque também no trânsito eu quase não peguei filas, só uns 10 Km de congestionamentos, e algumas centenas de buracos.

Já na posse de meu computador a internet atinge quase os incríveis 1 mega de velocidade. Uau! Procuro no menu “loterias”, confiro os canhotos da mega-sena e quase fiquei milionário, faltou só acertar os outros cinco números. Essa foi quase.

Quase ganhamos o Oscar pela trilha sonora no filme Rio.

Quase as polícias conseguem desarticular as quadrilhas que estouram os caixas eletrônicos. Pelo menos assim ficou mais fácil viajar, é só pegar dinheiro nos caixas que você irá pelos ares.

Está quase pronto os estádios para a copa de 2014, assim como as duplicações da BR 101, 116,...

Quase acabaram com a cracolândia no centro de São Paulo, porém, a cracolândia está como alguns governos almejam a sua estrutura... Descentralizou, periferizou.

Quase não há corrupções nesse país, como foi mostrado no “Fantástico” em relação a alguns prefeitos. Só lembrando que as eleições estão quase aí. Quase não haverá promessas. Quase me convencem.

Contudo, não se preocupem, estou quase no final desse texto, porque dá quase um embrulho falar de um país dos quase. Um país onde tudo se dá um jeitinho. Como um jeitinho nas escolas que quase desabam sobre os alunos, nos hospitais com seus quase leitos, na quase educação das pessoas, das quase derrubadas das nossas matas ou das quase matas que sobrarão depois de serem alagadas em mais uma hidrelétrica para garantir a energia que fará meu despertador quase funcionar. Para que me fará quase acordar, de um país da quase ordem e progresso.

*Esse texto foi publicado em Março de 2012, e de lá para cá, esse país continua quase a mesma coisa, ou se não, pior.

(Texto de Michell Foitte publicado no Jornal Evolução em Março de 2012. O autor está de férias e retornará em Janeiro de 2014).