Bate papo entre mortos -

- Mas que bagunça é aquela? - diz espiando lá de cima para baixo.

- Para qual continente você está olhando? - pergunta outro que está deitado sobre uma nuvem.

- O Americano.

- O do sul ou do norte?

- Que pergunta mais tola!

- Desculpe... Passe-me os meus óculos para eu ver com mais cautela... Oras, é o congresso brasileiro!

- Não, não. Olhe mais para perto da estatua do altíssimo. E para aquela cidadezinha onde está garoando.

- Ahm. Sim. É o movimento realizado pelo povo contra... Contra... Contra o que mesmo?

- Sei lá... Contra as biografias não autorizadas?

- Não acho que é isso.

- Contra as palavras de difícil pronuncia: eritroblastose, quadriloculado, petrobrás?

- Uhmmm, não!

- Contra os dias nas filas que os pais ainda precisam enfrentar para assegurar os filhos nas escolas públicas?

- Será?

Então uma voz surge por detrás de uma nebulosa com formato de algodão doce.

- Ut stato evertant, libertatem praeferunt; si perverterint, libertatem ipsam aggredientur!

- Quem disse isso?

- Sócrates!

- Em Italiano?

- Não foi o Sócrates filósofo e Grego, mas o jogador de futebol... Que jogou na Itália uma temporada... Aquele do Corinthians... Lembrou?

- Agora sim. Venha Doutor, se aproxime.

- O senhor que lutou por uma participação democrática dentro de um time de futebol, o que pensa destas manifestações?

Sócrates coçou sua barba por um instante, mas logo proferiu.

- Os politicalhões... 

Mais uma palavra com difícil pronuncia pensou um em cima de uma nuvem de tempestade.

-... Os politicalhões são como amigos ou inimigos, que volvem as costas ao povo nos dia de graça ou desgraça. E todos acham que isso é fato consumado, que à ordem vigente para aquele momento é necessário a mentira, a injustiça, o furto, a corrupção, a violência, para que todos estejam entendidos e respeitados. Os politicalhões se associam ao povo em sua maior gentileza e truculência para atender os interesses da ocasião, para atender às suas próprias conveniências. São todos adversários lutando do mesmo lado.

Todos que lá estavam silenciaram por instantes antes da última frase do grande Sócrates:

- Eu morro e ainda não vejo tudo!