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Michell Foitte

michell_foittehotmail.com

Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta

CRP 12/07911


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Estou pensando em você

Segunda, 28 de outubro de 2013


Podia afirmar que a minha geração era uma personagem dos tempos idos. Uma personagem que passa como recortes dos melhores e dos piores filmes. Alguns em preto e branco, outros coloridos, alguns cheios de suspenses, outros de aventuras, alguns de terror, alguns de romances e tantos outros de comédias. E o pior desses filmes que tanto vivi ou vi de alguma forma, eram que as suas legendas eram ruins ou a dublagem era de péssima qualidade, movimentos de uma linguagem que se movia antes da própria contração dos músculos faciais em que a tradução estava sempre disforme com a real tradução dos sentimentos, pois, nada substituiria a qualidade de algo original.

Afinal a vida é um pouco disso... Acontecimentos reais que se misturam as ficções e as fábulas. Um filme que se reproduz como narrativa em primeira pessoa, quando o diretor, o produtor, o diretor de som, o diretor de fotografias, é você mesmo.

Felicidades e tristezas que se produzem parcas, raras vezes e muitas delas das quais nunca ninguém viu ou viveu ainda. Uma espécie de filme inacabado.

E dentro de uma caixa de sapatos... Pode parecer estranho, mas em uma caixa de sapatos empoeirada que permanecia intocada propositalmente em cima de uma guarda roupa com seu vernissage encobrindo os veios marfim da madeira, estavam alguns... Vou chamar de filmes ou documentários biográficos, documentários de vida, aquilo que fez parte de quem eu sou e que nada mais é do que uma analogia para a vida real. Filmes então... Vida, quase que embolorados, amarelados pelo tempo. Filmes em formas variadas, curtas e longas metragens.

E de dentro da caixa, parecia sair uma voz que perguntava para esta vida um tanto corroída pelo tempo: Por que me persegues? ― perguntou a vida presente ao passado. E o passado respondeu: Por que te opões a mim?

Sem duvidas era algo que há tempos evitava. E não era a pergunta, mas a condição a qual todos, ou melhor, quase todos, um dia se perguntam: quem sou esse se não aquele que um dia fui e que ainda serei?

Deixaria para depois um entendimento sobre o futuro, quando o que eu gostaria era desvendar a caixa de sapatos com os rolos dos meus filmes, com os trechos da minha vida. Rebobinaria, voltaria a mim mesmo através das lentes que um dia me registraram, as lentes dos meus próprios olhos.

Tateei....

A primeira coisa que peguei foi àquela velha fita k7 do álbum Nevermind. Para quem não conhece a voz gritante e rouca misturada as distorções do brado de Kurt, vale a pena conhecer, pois, foi entre um e outro berro estridente que meus lábios encostaram-se aos lábios dela, Polly.

Engraçado como os títulos das canções haviam se apagado do plástico transparente, porém, de súbito consegui sentir o som inaudível recheado de uma paz, pude ouvir no fundo um eco celestial... I’m so happy `Cause today I’ve found my friends.

Sim... A segundo coisa a passar por minhas mãos foi uma foto de meus queridos amigos. Lembrei dos filmes: Conte comigo, Reflexos da amizade, Os bons companheiros, Reflexos da inocência, que fizeram parte de algo que simplesmente poderia se chamar eternidade, pois, não vejo de outra forma aquilo que possa representar a vida tão bem que não seja a eternidade da vida pela ótica da amizade, uma eternidade que é curta e ao mesmo tempo tão linda.

Chorei em solidão ao ver que alguns de meus amigos naquela foto tinham sido apagados, levados pelo golpe da morte.

Jamais queria esse final para esse filme. Contudo, não há ensaios para viver ou morrer.

Apesar de estar mexendo nas coisas minhas, de um passado que vivia tão despreocupadamente e conseguia gozar de uma vida feita de apenas um dia, já que era exatamente esse o tempo necessário para que nada fosse um peso, ou, para que nada fizesse para ser destronado pelos afãs, sabia que no céu havia também as suas nuvens negras, mas com um sorriso esperava a chuva cair e reviver os campos secos.

Bastaria perguntar aos que choram amargamente e de repente veem os prazeres que a vida oferta para entender o que estou dizendo.

Continuei...

Remexi em várias coisas que estavam contidas dentro daquela caixa, passei perdido nas horas que não preocupavam, lembrei e revivi tanta coisa numa quietude que dava para ouvir os ramos das árvores se moverem pelas frestas das janelas. Mas foi algo em especial que me fez parar durante tempos que não dariam para mensurar.

No fundo da caixa uma carta deixada por minha mãe, belíssima por sinal, como destinatários meu irmão e eu.  Uma simples carta com a seguinte frase: Estou pensando em vocês, porque esse pensamento nunca vai desaparecer.

Quando corri meus olhos pelas letras arredondadas da escrita dela, meu coração parecia reviver como se tivesse habitado meu peito novamente. Aquelas palavras simplesmente tinham vida.

Pensei também em tudo o que deixei de evitar ou evitei, das alegrias que deixei passar como algo que parecia sempre fugir com um sopro de vento. De todas as vezes que larguei as rédeas que poderiam arar um caminho da felicidade... E agora estava com essa frase em minhas mãos...  Algo que deixei por anos dentro de uma caixinha de vida e que por algum motivo me fez tomar fôlego novamente como um desejo que toma conta da vida que um dia eu encontrei e me fez ultrapassar limites...

Porque dentro de uma caixinha de sapato, naquelas doces frases, eu reencontrei a esperança.



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