Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Injustiça
Cleber, quando pequeno, tinha uma vida muito parecida com a dos outros meninos de sua cidade. Fazia coisas que toda a criança de sua idade fazia. Subia em árvores para colher das pequenas ameixas que amadureciam em docilidade, pedalava sua bicicleta pelas poças de água que a chuva deixava pelo caminho, jogava bola e às vezes ela parava na casa da vizinhança, jogava seu videogame. O que divergia frente aos seus outros amigos, era que Cleber perdera seu pai em um acidente de trânsito, provocado pelo relapso de um motorista alcoolizado que invadiu a via contrária acertado o carro onde estava seu pai.
À época, a mãe de Cleber intermediou um tutor para que ajudasse na educação de seu filho. Para as possíveis coisas as quais ela imaginava que apenas um homem conseguiria passar para outro homem. Esse tutor era uma pessoa de muitos conhecimentos. Educou Cleber da maneira mais respeitosa frente às outras pessoas. Falavam sobre assuntos diversos. Moral, sexualidade, religião, economia, pintura, livros, carros, tecnologia.
Porém, certo dia Cleber foi repreendido e colocado de castigo por seu tutor. Cleber não entendeu. Nada havia feito para que merecesse tal punição. Cleber ficou muito magoado.
Anos se passaram e Cleber iria completar a maioridade quando chamou seu tutor e perguntou-lhe: “Por que me repreendeu em tal dia colocando-me de castigo sem que eu merecesse?” E o tutor respondeu: “Quando seu pai faleceu naquele acidente de carro e eu fiquei responsável por cuidar de uma parte de sua educação, e ao perceber em você tantas qualidades, assim como seu pai as tinha, quis mostrar a você naquele dia a iniqüidade, a injustiça, para poder prevení-lo contra ela.”
A Maciez e a Dureza
Avô, filho e neto conversavam sobre as pequenas coisas que o universo infantil trazia como curiosidade. Conversavam na beirada da cama onde estava o avô, já que este estava acamado, enfermo por uma doença degenerativa.
O neto perguntava ao avô e ao pai mil coisas. Até que uma de suas perguntas foi a seguinte: “O que é que dura mais tempo, o ferro ou a borracha?”
Pai e filho se entre olharam para ver se conseguiam responder a pergunta do neto. Foi então que o avô chamou o pequeno para próximo dele e mandou olhar em sua boca e perguntou: “Você consegue ver a minha língua e os meus dentes?” Respondeu o neto: “Os seus dentes já não estão mais na sua boca vovô, mas a sua língua está.”
“É igual ao ferro e a borracha. Os dentes enquanto dureza é o mesmo o que acontece quando tratamos as pessoas com rispidez, dureza, ou tratamos a nós mesmo ou as nossas vidas com dureza e inflexibilidade, somos duros demais com nós mesmos. E isso de nada vale a pena, pois, acabarão como os meus dentes que foram duros... Desaparecerão, definharão. Já a borracha que é algo macio, assim como a minha língua, é o que permanece. Se tratarmos os outros com maciez e tolerância e flexibilidade, permanecerá muito mais do que a dureza das coisas.”
E a pequena criança compreendeu naquele dia a sensível diferença entre a dureza e a maciez.