Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Cheguei àquela cidade ziguezagueando vagarosamente por uma serpente asfáltica. Por um caminho cedido gentilmente por Dona Chica a milhares de outras pessoas que por lá passam e passaram durante anos.
Era um final de tarde e em seu ponto mais alto o sol nos brindou com seus raios rubros.
Era sete de setembro. E independente da data, estava regressando à cidade que me conduzia quase como uma dependência em meu corpo, que proliferavam todas minhas cumplicidades, lembranças, sorrisos, afetos. Essa cidade que guarda em seu seio um pedaço esverdeando da mata Atlântica, do verde na sua bandeira, que dos seus seios fez amamentarem seus filhos, caboclos e ou imigrantes.
E a noite chegou para àquele dia sete, agraciada com um manto estrelar, por D`alva que se agarrava a lua, por um cobertor estrelar que aqueceu, provavelmente, a imaginação da Plêiade. Que aqueceu jovens pelas ruas e velhos em seus lares. Céu Setestrela.
Permaneci pela cidade por mais uma semana e tive um estranhamento, pois, as coisas que meus olhos um dia viram e minha memória registrou em dezessete anos ininterruptos, agora estavam disformes. Parecia que aquilo que não havia sido tombado pelo patrimônio histórico acabou tombado, posto ao chão. Construções quadradas nos lugares de árvores frutiformes ou dos antigos casarões. Construções que pouco tem haver com a modernidade que é aliada à manutenção da identidade sócio-histórica de uma cidade.
Algo se perdeu. Algo está se perdendo...
Escreveu Carlos de Laet no ano de 1906. “Inditosos os povos desmemoriados, cujos entusiasmos só vitoriam os triunfadores atuais e que podem repartir despojos! Assim como pela amnésia, ou perda da memória, não raro começam graves moléstias cerebrais, identicamente condenadas à demência, à decrepitude, e à morte são as nações que não honram o seu passado”.
Esta cidade parecia ter um passado amarelado pelo tempo. De uma identidade naufragada. De uma história afogada pelo esquecimento e soterrada por uma modernidade plastificada. Assim como foi Atlântida que desapareceu submergida pelo mar, e que vive apenas como lenda.
E no dia quatorze, na companhia do manto Setestrela, me despedi de SBS como alguém que espera reencontrar um antigo conhecido em seu retorno.