Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
10… 9… 8… 7… E o elevador desce vagarosamente... 6... 5... 4... Talvez porque já esteja cansado de tanto subir e descer. É como a vida, tem seus altos e baixos... 3...2...1...T.
A porta se abre. Três pares de pernas adentram o elevador. Três mulheres.
A mais nova navega em seu Tablet, deslizando seus dedos na tela lambuzada com suas impressões digitais. Um fone rosa adere em suas orelhas, um pouco do som escapa no ambiente, contudo, nada que pudesse ser compreendido.
“A juventude é mesmo a idade dos porquês!” ― pensa Carla, a mais velha entre as três que estão no elevador, ao olhar a jovem Jenifer com a veste dos pássaros em plumas que ainda não completaram a idade para alçar vôo.
Jenifer tem treze anos e seus seios ainda são amostras grátis daquilo que desabrochará no tempo dos perfumes das primaveras das flores raras.
“A juventude é a idade do não querer saber os porquês!” ― Pensa Emanoela ao olhar a jovem Jenifer com suas botas de couro negro e meia calça preta contrastando com um curtíssimo short jeans violeta desfiado nas pontas, cavadinho entre as nadegas daquela pele de pêssego. Uma camiseta da banda Avenged Sevenfold semi coberta por uma jaqueta desbotada. Pálpebras carregadas com maquiagem fosforescente. “Mesmo com pouca idade ela já deve ter transado com seu namoradinho.” ― divaga Emanoela.
Dentro do elevador o sinal se perde e a conexão com a internet cai. Jenifer observa aquela mulher com um longo vestido cobrir até os calcanhares as suas intimidades. Ela tem pés bonitos e dedos longos, unhas com formato arredondado sobre sandálias de tiras que adentram o vestido rubro. “Equilibrar-se nestas sandálias de salto alto é só para quem deve ser muito equilibrada, centrada.” ― Pensa Jenifer.
3... 4... 5... O elevador sobe.
“Dona de empresa. Empresária do ramo imobiliário. Tem um carrão do ano. Quarenta e poucos anos...” ― Pensa Emanoela a respeito de Carla.
O elevador para no sexto andar.
“Licença” ― pede Carla, deixando o olor de uma suave fragrância. Dava para ver as tiras das sandálias subindo por sua perna enquanto o vestido inflava a cada passo dado para fora do elevador.
“Sapatos anatômicos brancos. Calça branca. Camiseta branca. Uma maleta branca com uma cruz vermelha no centro. Quem sabe eu poderia ser uma enfermeira também?” ― pensa Jenifer ao observar Emanoela toda alva... Como as vestes das santas.
Jenifer fica no oitavo andar. Emanoela no décimo e último andar.
O elevador desce lentamente cansado de subir e descer de subir e descer...
Carla se olha no espelho e seu rímel escorre pela face lacrimosa. Os saltos machucam os seus pés. Quarenta e três anos e ainda solteira. A conta do banco negativa. O nome no Serasa. Dois alugueis atrasados. Pega ônibus para o trabalho onde é agente de telemarketing. Chora descontroladamente em frente ao espelho. Soluça. Pergunta-se os porquês?
O elevador sobe e desce.
Jenifer ensaia em uma banda gospel, é a baterista. Pensa na enfermeira do elevador, mas como as suas notas no colégio são boas tentará daqui alguns anos o vestibular para medicina. Jenifer ainda é virgem e deseja que sua primeira vez seja com sua namorada, a Isadora.
T... 1... 2... 6... 9...
No décimo andar Emanoela entra no quarto número 1003.
“Você é a Emanoela?”
Em seguida uma resposta afirmativa.
Emanoela vê um homem sentado em uma poltrona. Ela se aproxima com sua maleta branca e cruz vermelha no centro, abre-a com delicadeza e dela retira algemas e um chicote de borracha.
“Adorei essa fantasia de enfermeira” ― diz o homem da poltrona.
Emanoela tira a roupa de enfermeira. Por debaixo um uma meia calça e sutien e calcinha rubras semi transparentes.
“Eu cobro antecipado” ― diz Emanoela. E o homem joga sobre a mesa de centro trezentos e cinqüenta reais. Emanoela coloca o dinheiro na maleta da cruz vermelha.
10... 9... 8... 3... 2... 1... T.