Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Dr. Fritz pretendia mudar a demanda para com os atendimentos de grupo, visto que foi um sucesso ter juntado, na mesma circunstância, sádicos e masoquistas, e, dito pelos próprios consulentes, “o método, o trabalho, todas aquelas dinâmicas e vivências foram um grande alívio e satisfação”. Apenas quando o grupo resolveu fazer uma partida de futebol, separando sádicos para um lado e masoquistas para o outro lado, é que não deu tão certo, pois a bola nem rolou. Se fosse um jogo oficial, sairiam os sádicos expulsos e os masoquistas lesionados, enfim...
Sendo assim, o novo grupo foi formado. O grupo dos Cleptomaníacos.
— Boa tarde a todos, eu sou o Dr. Fritz, psicólogo clínico Gestalt-terapeuta, e acompanharei todas as vivências e as trocas de experiências deste grupo. Tudo bem?... Vou apenas pegar a lista das pessoas que estão aqui... Só um momento... Deixe-me ver... No bolso do paletó, não está... No bolso frontal da calça, também não... Por acaso, alguém viu uma lista com nomes de pessoas? Não? Ninguém? Vamos tentar sem a lista, alguém poderia começar a se apresentar?
Depois de alguns segundos de um silêncio quase que ruidoso, alguém se levantou de sua cadeira e falou:
— Meu nome é Sílvio, tenho 32 anos, estou livre dos furtos a mais ou menos três meses. Comecei furtando pequenas coisas como tampas de canetas, cadarços de tênis, coberturas dos bolos de chocolate, lentes de óculos, grafites de lapiseira, e resolvi procurar ajuda quando em um dos meus últimos furtos, que foram três micos-leões-dourados do zoológico, fui infectado por pulgões.
O grupo todo fez um “Uhmmmmmmmm”.
— Vamos agradecer ao Sílvio por seu testemunho... — dizia Dr. Fritz.
Sílvio iria se sentar quando deu uma bundada no chão!
— Cadê a cadeira dele? Alguém viu? Alguém pegou? Não? Ninguém?
Já era. Tinham furtado a cadeira. Sílvio permanecera de pé enquanto ouvia outro consulente se apresentar.
— Meu nome é Ivan, fui casado 47 vezes!
O grupo todo ficou boquiaberto.
— Pois é... Eu sei... Este não é um grupo de casal. Não vim discutir a relação, podem ficar tranquilos. É que eu tenho essa mania de roubar as mulheres dos meus amigos.
Alguns dos homens que lá se encontravam, disfarçadamente, tiraram as alianças e colocaram longe dos olhos do Ivan, o terrível ladrão de mulheres.
— Ok. Vamos agradecer ao Ivan por seu discurso. — apenas o grupo dos solteiros o aplaudiu.
— Olá, meu nome é Sônia. Já furtei carteiras, relógios, correntes de pescoço...
Dr. Fritz a interrompe. — Sônia!
— O que foi?
— Por favor, meu relógio!
— Desculpe-me, é que estou ainda em tratamento.
— Sônia, a minha carteira também. Por acaso você também furta celulares, pois o meu sumiu?
— Pessoal, vamos aplaudir a coragem de Sônia por ela se expor e expor as suas fraquezas... Mas onde foi parar a Sônia?... Você aí com a camisa do Corinthians, isso não é furto, é sequestro, vai... Devolve a Sônia.
Muitos Cleptomaníacos se apresentaram naquele dia, alguns casos curiosos como o do furtador que só furtava furtadores ou do deputado compulsivo em furtar os cofrinhos de porquinhos de porcelana para guardar as mesadas dos mensalões, ou ainda, o furtador de leite materno que subtraia o leite diretamente dos seios das mulheres lactantes.
— Acho que, por hora, podemos encerrar este nosso primeiro encontro — disse Dr. Fritz — vou apenas marcar os nomes das pessoas que vieram... Deixe-me tentar encontrar a lista de presença... No bolso esquerdo do paletó, não está... Quem sabe no bolso de trás da calça?... Mas quem foi que pegou a minha calça???