Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Na coluna de hoje, deixarei não as minhas palavras, mas as palavras e a companhia para o leitor de um dos maiores simbolistas brasileiro, o catarinense Cruz e Souza. E tenho a certeza de que a coluna estará em boas mãos, com os poemas “Sexta-Feira Santa” e “Ressurreição”.
Sexta-Feira Santa
Lua absíntica, verde, feiticeira,
Pasmada como um vício monstruoso...
Um cão estranho fuça na esterqueira,
Uivando para o espaço fabuloso.
É esta a negra e santa Sexta-Feira!
Cristo está morto, como um vil leproso,
Chagado e frio, na feroz cegueira
Da morte, o sangue roxo e tenebroso.
A serpente do mal e do pecado
Um sinistro veneno esverdeado
Verte do Morto na mudez serena.
Mas da sagrada Redenção do Cristo,
Em vez do grande Amor, puro, imprevisto,
Brotam fosforescências de gangrena!
(Últimos Sonetos / Cruz e Sousa)
Ressurreição
Alma! Que tu não chores e não gemas,
Teu amor voltou agora.
Ei-lo que chega das mansões extremas,
Lá onde a loucura mora!
(...)O meu amor voltou de aéreas curvas,
Das paragens mais funestas...
Veio a percorrer torvas e turvas
E funambulescas festas.
E lágrimas, que enfim, caem ainda
Com os mais acres dos sabores
E se transformam (maravilha infinda!)
Em maravilhas de flores!
Não! Não te sinto mortalmente envolta
Na névoa que tudo encerra...
Doce espectro do pó, da poeira solta
Deflorada pela terra.
Ah! Foi com Deus que tu chegaste, é certo,
Com a sua graça espontânea
Que emigraste das plagas do Deserto
Nu, sem sombra e sol, da insânia!
Porém tu, afinal, ressuscitaste
E tudo em mim ressuscita.
E o meu Amor, que repurificaste,
Canta na paz infinita! (...)
(Fragmento do poema Ressurreição. Faróis / Cruz e Sousa)