Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Com seus cabelos níveos, corpo frágil e uma voz arrastada, o papa arrastou uma multidão à sua despedida.
O prelado do Sacro Colégio Pontifício rendeu-se às emoções daquele momento, e, em lágrimas beijavam a mão da sua santidade pela última vez. A persona Benedictus XVI renunciava o pontificado.
E ao meu parecer, Joseph A. Ratzinger abraçava-se à solidão, à paz, ao silêncio, como alguém que tem a consciência à despedida da vida em seus últimos instantes.
A pele, a carne, os tendões, os músculos, nada é perene. Eu, nós, somos iguais quando tudo se acaba. Aos olhos da morte, da morte do nosso corpo, somos todos intransferíveis.
A vida é um simples morrer contínuo. A vida é a morte em ação. Morte e vida são dois seres inseparáveis. Assim como os nossos ancestrais morreram, como também os nossos antepassados morreram. Como os primeiros homens cristãos: Adão e Eva e os seus filhos... Nós também morreremos.
Será assim com todos.
Desaparecerão aqueles rostos conhecidos. Desaparecerão das esquinas, das festas, do trabalho.
Desaparecerão das nossas vidas aquelas velhas caras conhecidas. E um dia não mais encontraremos as feições e os sorrisos, nem o timbre daquelas vozes em nossas memórias. Não os encontraremos em parte alguma.
Correrá o tempo, passarão anos e de repente lembramo-nos daquelas faces que sumiram em uma solidão obscura das nossas lembranças.
Aos nossos olhos a morte nos rouba nossos queridos pais, amigos, irmãos, cônjuges, filhos... Os velhos rostos conhecidos.
Teremos a lembrança que é como a estrela Vênus que nasce no oriente, desaparece e reaparece como a estrela da tarde no ocidente, um simbolismo entre a morte e a vida. Simbolismo desses dois mistérios indevassáveis. Daquilo que some e reaparece.
A morte como a última labareda da vela que cessará de queimar, como a última trombeta que irá parar de soar, como o último beijo de despedida por aquilo que morre dentro de nós enquanto vivemos