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Michell Foitte

michell_foittehotmail.com

Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta

CRP 12/07911


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Neto: o filho

Segunda, 11 de março de 2013


João Victor Filho era filho de João Victor, mais conhecido como “Vitão”.

“Vitão”, em seus tempos áureos, domava cavalos apenas com quatro dedos, que por sinal eram os dedos da mão esquerda, a sua mão mais fraca, já que era destro.

Com o passar dos anos, o “Vitão” precisou abandonar a prática de amansar os equinos. Sua mão esquerda era um zero à esquerda, então, aos 72, teve que usar pela primeira vez a mão direita para o adestramento da bicharada, incluindo o quinto dedo.

“É a idade chegando” ― dizia “Vitão”.

João Victor Filho, o “Joaozão”, filho primogênito do “Vitão”, teve uma vida menos rural. Só ia para o mato quando uma dor de barriga o exigia ou quando se atracava com as mocinhas da cidade.

O tempo foi passando e João pai e João filho se encontraram para uma conversa enquanto o “Vitão” desatolava uma vaca encalhada no banhado. “Joaozão” logo se emocionou, pois aquela cena o fez lembrar alguns dos melhores momentos de sua vida.

― Filho!

― Sim, pai.

― Está na hora de darmos continuidade à família... Uhrrrr... malditas vacas...

― Sim pai... Mas eu gosto delas!

― Filho, qual a relação da vaca atolada com um neto?

― Ah! É que eu estava pensando em outra coisa...

Nove meses depois daquela conversa nascia João Victor Neto, o “Neto”. Era o primeiro neto da família, filho do primogênito J.V.Filho.

Anos passaram e “Neto” era conhecido pelos amigos como “Joaozinho”, às vezes “Vitinho” - e para os mais chegados simplesmente “Netinho”.

“Neto” sabia como ninguém domar agulhas e linhas e criava vestidinhos lindos para os bonecos que o pai e o avô lhe davam, e usava para isso apenas dois dedos.

Mais tarde, “Neto” fez seu primeiro vestido, com rendas gregas e pedrarias e babados e passa-fita e paetê e fuxicos, que ele mesmo usou para a prova. João Victor Filho, filho do “Vitão”, quase teve um treco, mas “Neto” era seu filho e não havia o que ser feito, apenas tentar esconder essas idiossincrasias do avô do “Neto”.

“Vitinho, Joaozinho, Netinho”, num belo dia apareceu com seu namorado. Aquilo era demais para o “Joaozão”. O que era para ser a continuidade da família poderia ser a ruína dela. Gerações que seriam extintas naquela geração. Não, não daria para ficar como estava, era preciso fazer alguma coisa ― pensava J.V.Filho ― algo que só um pai é capaz de fazer por um filho.

“Joaozão” começou apelando, pintou de verde e amarelo o poodle do namorado do “Netinho”. Adicionou pimenta, batatas, cebolas e chucrute na dieta alimentar do filho, isso fazia com que a cada dez passos dados, uma “trovoada” se manifestava. Mas parecia que a relação do “Neto” com seu namorado eram inabaláveis. “Joaozão” não desistiria. Passaria na banca mais próxima e compraria revistas de mulheres peladas e ainda colaria os pôsteres na parede do quarto do filho. Também comprou pares de calcinhas de várias cores e espalhou pelas gavetas do armário do “Neto”... Tudo perda de tempo, pois tanto o filho quanto o namorado adoraram as peças íntimas femininas e ainda acharam que foi um presente do “Joaozão”.

Era preciso mudar a tática, maquinava J.V.F. Então comprou de olhos fechados várias revistas de homens peladões e cuecas multicoloridas e espalhou tudo pela casa. Mandou mensagens para o celular do “Neto” e criou um perfil falso no Facebook com a alcunha de “Alexandrão, o cueca larga”. Além disso, entortou as agulhas e passou cerol nos fios de lã do kit de costura do “Neto”.

J.V.Neto e o namorado chegaram em casa discutindo a relação. Mesmo assim, J.V.Filho jogaria sujo para se certificar de que o exterminador das gerações familiares largaria aquela vida, então, deixou toalhas molhadas com estampas de homens musculosos sobre a cama do “Neto”, cuecas secando de penduradas no box do banheiro, cabelos entupindo o ralo do chuveiro e escovas de dentes com formato de abdômen próximas à pia. Por fim, ainda contrataria um homem para ficar desfilando apenas de sunga cavadinha nas nádegas no quarto do “Neto”’. Era o que bastava para que o namorado do “Vitinho” terminasse a relação.



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