Página 108. "... Continuo arfando, tentando acalmar minha respiração, meu coração disparado e meus pensamentos tumultuados. Uau... Isso foi incrível." Christian Grey acabou de desvirginar Anastacia Steele.
As preliminares começaram na página 104 do best-seller mais apreciado pelas mulheres no ano, Cinquenta Tons de Cinza. Sra. Steele teve um orgasmo na primeira transa. E mais: um orgasmo vaginal. Pura ficção? Até este ano, a resposta seria sim. Sem estimulação do clitóris, a maioria das mulheres não poderia chegar ao ápice sexual. Mas uma pesquisa recente do ginecologista americano Adam Ostrzenski publicada na revista científica The Journal Of Sexual Medicine ressuscitou o lendário Ponto G.
O médico, a partir de uma intervenção cirúrgica que durou sete horas de dissecação no cadáver de um mulher de 84 anos, afirma ter encontrado uma estrutura anatômica, bem delineada, localizada na parede frontal da vagina, que quando estimulada aumenta de tamanho e gera prazer à mulher. O estudo gerou controversa.
A sexóloga Carmita Abdo, fundadora e coordenadora do ProSex - Projeto de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, afirma que todos os órgãos do nosso corpo têm uma região para onde convergem nervos e vasos e, portanto, é mais sensível.
- O problema é achar que existe um ponto e ficar procurando. O que sabemos é que o prazer intravaginal está na borda externa (inicial) e superior da vagina - diz. Segundo Carmita, um número pequeno de mulheres consegue chegar ao orgasmo vaginal e, em geral, são pessoas com experiência sexual e que têm intimidade com o parceiro de longo data. A ginecologista catarinense, especialista em sexualidade, Maria Inês Gasparini, ressalta que pesquisas como essa são importantes, mas ressalta:
- O orgasmo feminino é desencadeado pelo clitóris. O que acontece é que a vulva é toda enervada. Às vezes, a mulher pode estar tão excitada que chega ao orgasmo na relação tradicional. Mas antes teve estimulação do clitóris.
Gasparini, Abdo ou Ostrzendki concordam em uma questão: apesar dos avanços conquistados nos últimos 50 anos, as mulheres ainda têm dificuldade para chegar lá. Segundo Carmita, um terço das brasileiras não sentem orgasmo. Algumas relatam desconhecer a sensação - caracterizada essencialmente pela descarga de uma tensão prazerosa. Outro estudo, desta vez divulgado pela Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, procurou identificar que motivos levam a mulher contemporânea a simular o orgasmo.
O levantamento foi feito em Minas Gerais aplicando um questionário para 200 mulheres. Eis as principais conclusões:
- 44,4% encenam o prazer diante do parceiro visando diretamente ao fortalecimento do relacionamento.
- 55,6 %, ao simularem o orgasmo, têm sua atenção voltada para o bem-estar psicológico do parceiro.
- 38,5% o fazem para encurtar o tempo de relações não prazerosas.
- 20,2% para não revelar suas dificuldades sexuais.
- 17,3% para manter o sentimento de competência sexual do parceiro. Apenas o prazer pelo prazer já justificaria a busca feminina pela satisfação sexual. Mas não é só.
O orgasmo é uma função do nosso corpo e, assim, integra a saúde da mulher. Para alcançá-lo, mulheres precisam de mais tempo do que homens. Lembra das quatro páginas de preparação entre o casal Grey e Ana? O prazer feminino está vinculado diretamente à harmonia de dois sistemas: o fisiológico e o psicológico.