Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
É tão difícil ser burro nos dias atuais?
Tudo parece ser tão quadradinho, redondinho, perfeitinho.
Para começo de conversa, com toda essa informação que nos é dada dia a dia, e daquelas outras que podemos acessar em poucos cliques, basta sentarmos na frente de um computador que um mundo aparece. É realmente difícil de sermos burros. Mas, também é porque há um componente de vaidade nisso tudo... É que jamais admitiremos que esse predicado venha à tona, ou seja, podemos até dizer que somos esquisitões ― embora nossas mães dizem o contrário ―, que somos da pá virada, com alguns parafusos a menos, mas nunca, nunca mesmo, nos auto-intitularemos de burros, isso porque burro algum sabe que é burro, pois, burro que é burro jamais reconhece a própria estupidez.
Entretanto, assim como a preguiça é a mãe do progresso, como dito por Mario Quintana, “se o ser humano não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda”, a burrice tem papel importante na evolução humana, pois, sabe-se que o burro não é de pensar muito, e assim, acaba agindo inconsequentemente, impensadamente, precipitadamente, contudo, mesmo agindo dessa maneira, ainda é mais útil do que não fazer nada ou não saber de nada ou não se posicionar.
― Então quer dizer que ser burro não é de todo ruim? ― alguém poderia perguntar.
Calma, pois, há uma diferença. Penso que, e quase plagiando Mario Q. diria: A burrice é a mãe do conhecimento. E aí está a diferença: desde que, conseguíssemos reconhecer os nossos próprios erros e corrigi-los, então, nos reconheceríamos. Errando é que se aprende a não errar.
Para finalizar, a burrice se apóia em alguns pilares de sustentação, entre eles: todo burro passa mais de uma vez na fila dos burros, isso que dizer que os burros repetem os mesmos comportamentos e não são capazes de modificá-los. Segundo, se duas cabeças pensam mais do que uma, dois burros fazem mais burradas que um só. Terceiro e talvez o mais importante: o poder ― político, intelectual, de classes dominantes, sócio-econômico ― aumenta o potencial nocivo da burrice dos burros, já que se deparam com a ilusão de que são mais sábios, mais produtivos, melhores.