Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Sequestros, estupros, desmatamentos, vilipendio, roubo, racismos, homofobia, assassinatos, pedofilia.
Muitos irão ler esse texto e achá-lo comum, habitual, enfim, pode até ser mesmo que seja algo genérico, já batido, comentado, discutido inúmeras vezes. Entretanto, novamente vou até ele.
Alguns alunos nem bem começaram as aulas e surpresa! Greve dos professores. Surpresa? Não, trivial, pois, prometer e não cumprir o teto salarial dos professores como outras promessas não cumpridas é algo comum entre os nossos governantes.
É minha querida amiga Lívia, você lembrou muito bem, a vida hoje em dia é uma surpresa trivial. Exemplo disso, aqueles moradores de rua que foram queimados enquanto dormiam debaixo de árvores, da mesma forma que o índio Galdino Jesus dos Santos, da tribo Pataxó, por ser confundido com um mendigo enquanto dormia em um ponto de ônibus.
A vida nesses casos tornou-se banal. Atearam fogo nessas pessoas por serem mendigos. É a inquisição dos tempos modernos.
É banal, comum, quando mais um flagrante de uma mãe que esmurra uma menor, estudante, no término das aulas, simplesmente porque essa garota e sua filha discutiram. Não era nos colégios onde deveriam formar pessoas com bom senso e conhecimento? Não é justamente dos pais ― ou das pessoas mais próximas à criação e ao desenvolvimento ― que adquirimos a noção de respeito, amizade, amor?
Afinal, ótimo exemplo dado por essa mãe à sua filha!
Surpreende alguém quando licitações são fraudadas? Quando remédios que deveriam ser usados no tratamento de inúmeras afecções são descartados nos lixões? Quando um país que “cresce” consideravelmente, tenha mais de 80 milhões de pessoas que não conseguem pagar as suas contas? Que a cada 46 minutos ― em Santa Catarina ― uma mulher é vítima de violência doméstica? Que alguém foi vítima de bala perdida?
Não me surpreenderia escutar de alguém que diga não se surpreender com tudo isso. E por mais que pareça absurdo, é trivial ouvir: “É só mais um apronte de um gestor corrupto”. “Bem que esses pivetes mereceram”. “É só mais um que morreu”.
Ignorar é sempre o caminho mais fácil, é mais fácil viver sem se importar, afinal é : Deus por todos e todos por mim!
Por vir até esse texto como uma lembrança recente e ao mesmo tempo longínqua, percebo que ainda somos, quase que a maioria, comuns, pessoas que ainda se parecem muito, enfermos em um sentido, pois, é na doença ― preconceitos, nas neuroses, nas fixações e nas cristalizações de estereótipos ― onde somos todos parecidos , e ao contrário disso, é na saúde como pessoas saudáveis que criam algo novo, diferente, para pensar e fazer a diferença de algo novo, é aonde vemos as miudezas, as sutilezas daquilo que para muitos é comum.
E para a surpresa de muitos, surpresa! Eu ainda me surpreendo com as coisas triviais.