Mais de 28,5 milhões de argentinos vão às urnas neste domingo para votar nas eleições presidenciais que devem reeleger a presidente Cristina Kirchner. Segundo pesquisas de opinião, ela deve receber mais votos que todos os candidatos da oposição juntos, refletindo o quadro registrado nas eleições primárias de agosto.
Na ocasião, definida como uma "pré-eleição geral", ela recebeu mais de 30 pontos percentuais que os demais candidatos. Seus principais rivais são Ricardo Alfonsín, do Udesco, Hermes Binner, da Frente Ampla Progressista (FAP), e Alberto Rodríguez Saá, do Compromisso Federal.
Pessoas são vistas sob faixa com retratos da presidente Cristina Kirchner, e seu marido morto, o ex-presidente Néstor Kirchner, enquanto esperam comício em Buenos Aires
Neste domingo também acontecem eleições locais em nove províncias, entre elas a de Buenos Aires, o maior distrito eleitoral do país. A população também renova 130 das 257 cadeiras da Câmara e um terço dos 72 assentos do Senado.
Com poucas esperanças de vencer Cristina, a oposição tenta evitar uma possível derrota no Congresso Nacional. Atualmente, a oposição tem maioria na Câmara e o governo maioria no Senado.
Alfonsín, filho do ex-presidente Ricardo Alfonsín (1983-1989), pediu que os eleitores deem seu voto para que a oposição possa "controlar o governo no Congresso". "Se não formos eleitos para a Presidência pelo menos devemos ser fortes no Congresso", afirmou.
Na mesma linha , o deputado da oposição Adrián Pérez, candidato a vice na chapa da Coalición Cívica (CC) disse que "devemos pelo menos trabalhar para evitar que o governo tenha maioria no Congresso".
Oposição enfraquecida
Para o sociólogo Ricardo Sidicaro, da Universidade de Buenos Aires (UBA), Cristina vencerá porque os demais candidatos não souberam "ser alternativa" ao atual governo.
"O governo não apresentou projeto de longo prazo. Não mostrou ainda como resolverá questões como a inflação. Teve um estilo de confrontação (com alguns setores). Mas Cristina vai ganhar porque é melhor que os candidatos da oposição", opinou.
Para o analista político Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nova Maioria, se a oposição estivesse "unida e articulada", Cristina teria menor vantagem e talvez tivesse que disputar o segundo turno (previsto para novembro).
A crise da oposição se reflete na quantidade de candidaturas opositoras neste domingo - seis, no total. "E os dois principais candidatos da oposição, (Eduardo) Duhalde e (Ricardo) Alfonsín, devem registrar drástica queda nas urnas em relação a agosto", afirmou Fornoni.
Duhalde governou o país entre 2002 e 2003 e apoiou a eleição do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), marido e antecessor de Cristina que morreu há quase um ano. Alfonsín é filho do ex-presidente Raul Alfonsín (1983-1989).
"Cristina tinha 34% de aprovação quando Kirchner morreu. Mas não foi apenas por pena que subiu nas pesquisas. Os eleitores entenderam que ela soube administrar o país, mesmo sem resolver ainda a inflação", disse Mariel Fornoni.
No discurso de encerramento de sua campanha, a presidente disse: "Sem os meus filhos, Maximo e Florência, não teria sido possível (continuar)", disse.
'Falta de diálogo'
Para Fornoni, Cristina, ao contrário do marido, reduziu o nível de tensão com os opositores, diminuindo também a rejeição ao seu nome, principalmente entre as mulheres.
Mas a campanha chegou ao fim sem debates entre os presidenciáveis e com a oposição criticando a "falta de diálogo" do governo com seus adversários, como disseram os candidatos Alberto Rodríguez Saá e Elisa Carrió.
No atual ambiente, empresários evitam criticar o governo publicamente - "por favor, não coloquem meu nome", costumam dizer - por medo de "represálias" de autoridades da gestão oficial, e o governo segue com duras disputas com setores da imprensa. Kirchner costumava levar cartaz para seus comícios dizendo: "(o jornal) Clarín mente" ou criticando abertamente o jornal La Nación, outro tradicional no país.
A imprensa, por sua vez, se diz cerceada pelo governo. Num debate na televisão, na semana passada, jornalistas mostraram-se preocupados que "o confronto com a imprensa seja intensificado" num possível novo governo de Cristina.
Em todo o país e no exterior há 12.728 pontos de votação. A eleição contará com o trabalho de 180 mil presidentes de mesas, 250 mil fiscais partidários, 20 mil delegados eleitorais e 100 mil funcionários do serviço estatal de correios. Serão mobilizados ainda 115 mil agentes das Forças Armadas e de segurança nos 24 distritos eleitorais do país.
Com EFE e BBC