Para cervejarias artesanais, esse movimento pode ser uma oportunidade, mas é necessário o olhar estratégico sobre o negócio
Com o surgimento de Rotas Cervejeiras e o crescente interesse do público por experiências sensoriais, o turismo cervejeiro ganha destaque como uma vertente promissora. Para as cervejarias artesanais e bares, esse movimento representa não apenas uma oportunidade de avanço nos negócios, mas também um desafio estratégico que exige uma abordagem inovadora, integrando a tradição cervejeira e potenciais tecnológicos.
O Professor Dr. Tiago Savi Mondo, pesquisador das áreas de qualidade em serviços turísticos, aponta potencialidades e desafios do turismo cervejeiro. Segundo Mondo, do ponto de vista do turista, as cervejarias oferecem uma variedade de atividades que enriquecem a experiência do viajante no destino.
“Quando a gente explora os 5 sentidos a experiência fica ainda mais memorável. As bebidas têm esse poder, elas remetem a sensações e fazem com que a viagem do turista seja diferente, interessante. Portanto essa visitação, aliada às bebidas e a gastronomia, fortalece o destino”, explica.
Porém, como aliar soluções de tecnologia para potencializar ainda mais essa experiência?
Recentemente, Rotas Cervejeiras foram lançadas em algumas cidades do Brasil. Joinville, no norte de Santa Catarina, é uma delas. O projeto busca fortalecer a região e resgatar o importante legado cervejeiro da cidade que já foi sede de uma importante fábrica da Antárctica e está entre as 22 cidades do Brasil com mais de 10 cervejarias registradas, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária.
Por lá a Rota reúne 11 estabelecimentos, sendo 8 cervejarias e 3 bares. Pelo menos 4 estabelecimentos da Rota utilizam o sistema de autosserviço de chopp no dia a dia, o que torna as questões sobre potenciais tecnológicos cada vez mais relevantes no contexto do turismo cervejeiro.
Alexandre Flores, Mestre em computação e fundador da Beerpass, startup especializada em oferecer soluções tecnológicas e autosserviço de chopp para negócios cervejeiros, compartilha sua visão sobre como a tecnologia pode potencializar a experiência dos turistas.
"Percebemos que a tecnologia é uma grande aliada dos bares e cervejarias para entregar experiência. O próprio autosserviço de chopp é um exemplo de tecnologia que potencializa a visitação, já que permite com que o próprio visitante se sirva, tendo esse contato com a torneira e degustando diversos estilos em um único local, o que é bastante interessante.", destaca Alexandre.
Para ele, é importante que os profissionais estejam atentos às facilidades que as soluções podem oferecer, como visitas guiadas com som, aplicativos de roteiros turísticos, mapas interativos e muito mais.
“Existem alguns cases interessantes. O aplicativo de realidade virtual para turistas, desenvolvido na cidade de Joinville e também, recentemente, o Turismo 4.0 implementado pela prefeitura de Petrópolis, aliando tecnologia aos passeios turísticos. São apenas possibilidades que a tecnologia oferece e que pode ser explorada em negócios cervejeiros. Essas ferramentas contribuem para tornar a experiência do turista mais dinâmica, interativa e informativa, agregando valor ao destino e às cervejarias”, aponta.
As soluções a que Alexandre se refere é o Visite Joinville virtual, onde as pessoas podem explorar passeios e a história da cidade através de uma assistente virtual. E a contratação da Smart Tour em Petrópolis, uma GovTech especializada em soluções para cidades inteligentes e turismo 4.0.
Ainda assim, Flores relata que para buscar um modelo de negócio que também inclua o turismo e a tecnologia, o empreendedor precisa se atentar ao planejamento. “Cada passo dentro de um negócio cervejeiro é algo que precisa ser estrategicamente pensado, mas como vimos, por exemplo com as Rotas Cervejeiras, existe sim um potencial a se explorar”
O Professor Dr. Tiago Savi Mondo também ressalta o potencial da tecnologia para aprimorar a experiência do turista no contexto do turismo cervejeiro.
"A tecnologia pode desempenhar um papel fundamental na melhoria da experiência do turista. Há várias possibilidades como realidade virtual, realidade aumentada e automação de processos e outros.”
No entanto, segundo o pesquisador, o maior desafio é convencer os empresários da importância desses investimentos e incentivá-los a adotar uma mentalidade empreendedora voltada para o setor de serviços.
Tiago explica que ainda há uma barreira significativa para transformar essas cervejarias em destinos turísticos. Embora alguns destinos já tenham alcançado esse feito, há uma série de fatores que dificultam essa transição.
“Muitas cervejarias não conseguem estruturar um projeto de turismo devido à ausência de uma visão clara sobre o potencial dessa atividade como uma segunda fonte de renda. Além disso, as limitações de recursos, pessoas, dinheiro e divulgação também representam desafios significativos. A limitação geográfica para criar rotas turísticas também é uma questão a ser considerada", compartilha.
Para ele, é necessário que o empreendedor tenha um produto de visitação bem delimitado, ou seja, um processo bem estabelecido.
“Para virar essa chave é necessário ter um produto de visitação bem adequado. Como vão acontecer essas visitações? Eu preciso criar uma história, tenho que ter horários, atendimento. Preciso ter uma lojinha com atendente, uma equipe, pessoas treinadas. Enfim, focar em processos, produtos e pessoas”, finaliza.