Uma campanha nacional, com o objetivo de incentivar e aumentar o número de doadores de órgãos foi lançada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). No Brasil, quase 43 mil pessoas aguardam por um transplante de órgãos. Desses, perto de 40 mil esperam por um rim. Os números aumentam todos os anos, mas os doadores não são suficientes para a demanda. Por isso, e para incentivar este ato de amor ao próximo no País, o CNJ, em parceria com os cartórios, lançou esta semana a campanha “Um Só Coração: Seja Vida na Vida de Alguém”.
A partir do interesse pessoal em ser um doador de órgãos, o cidadão pode fazer essa manifestação publicamente e deixar isso registrado por meio da Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos (AEDO). Basta acessar o site www.aedo.org.br e preencher os dados. É tudo online e não tem custo.
Hoje, quem deseja doar órgãos faz um comunicado à família, que na hora da morte é consultada por uma equipe médica sobre o desejo. Com a AEDO, essa manifestação fica pública. No entanto, ainda assim a família é consultada sobre a permissão ou não dessa doação no momento do luto, conforme Lei Federal nº 9.434/97.
A autorização eletrônica ficará disponível, tanto no site da AEDO como na Central Nacional de Doares de Órgãos, para consulta pelos responsáveis do Sistema Nacional de Transplantes e equipes médicas apenas com intuito de abordagem da família, que ainda terá a decisão final.
A Fundação Pró-Rim, pioneira no transplante renal em Santa Catarina, chega neste ano de 2024 a 2 mil transplantes. São vidas salvas, pessoas que tiveram uma segunda chance. Segundo o Registro Brasileiro de Transplantes, dados de 2023 apontam que a cada mil pessoas falecidas, 14,5 teriam condições de doarem órgãos. Mas apenas 2,6 das famílias realizaram esse ato.
Incentivo à doação
O médico urologista e transplantador da Fundação Pró-Rim, dr. Jean Guterres, vê como positiva a iniciativa do Conselho Nacional de Justiça, referente ao incentivo à doação de órgãos. “Foi lançada uma luz no que se refere à doação de órgãos, servindo para estimular o debate sobre o assunto. Esperamos aumentar o número de doadores”.
Dr. Jean ainda lembra que “dessa vida não se leva nada, apenas deixamos aquilo que fomos” e que “doar é um ato que beneficia a alma (de quem partiu) e o corpo (de quem fica)”.
Lista ou fila de transplante?
O médico transplantador da Pró-Rim, dr. Christian Evangelista Garcia, explica como funciona a lista do transplante. “Em primeiro lugar, é uma lista, não uma fila. O paciente interessado em receber um órgão passa por avaliação realizada pela equipe do transplante e, então, ele recebe ou não a indicação de que está apto a receber uma doação. O paciente vai para essa lista de transplante, onde os critérios são a compatibilidade”, justifica o dr. Christian.
Os critérios são peso, altura e, principalmente compatibilidade ABO (classificação do tipo sanguíneo) e Cross-Match (exame em que se mistura o sangue do receptor e do doador para ver se há possibilidade de rejeição nas primeiras horas pós-transplante).
“É por isso que, às vezes, um paciente que entra na lista de transplante de rim hoje consegue ser transplantado amanhã ou depois, pois surge um órgão compatível apenas com ele. Esses testes são feitos pela Central de Transplantes. Então, realmente é uma lista, não uma fila”, reforça.