HOMENAGEM
No dia 23 de dezembro de 2023, eu escrevi:
Médica que virou paciente, Adriana Lisboa fala, nesta entrevista, sobre o câncer, doença cujo mês de combate será lembrado agora em outubro. Ela conta detalhes sobre a descoberta, o tratamento e a cura da enfermidade
EVOLUÇÃO - Conversamos, mais uma vez, com a diretora técnica do Hospital e Maternidade Sagrada Família, Adriana Lisboa. Outubro é o mês de combate ao câncer. O que esta palavra - câncer - representa para você, para o bem ou para o mal?
ADRIANA LISBOA - O câncer é quase como aquele namorado inconveniente - você quer se livrar dele de qualquer maneira. Encaro o câncer na minha vida mais ou menos assim. Quando eu tinha três anos de idade, eu tinha uma amiguinha da mesma idade. Essa menina teve leucemia, ficou doente. Minha mãe me levava para visitar essa menina lá no Instituto Nacional do Câncer, no Centro da cidade do Rio de Janeiro. Então, fui muitas e muitas vezes ver essa minha amiguinha. Lembro dela careca, inclusive. Ela acabou falecendo. Essa menina - agora eu penso - talvez tenha sido uma coisa decisiva na minha vida. Por causa dela, talvez, eu tenha me formada médica. Anos mais tarde, quando acabei a faculdade e, fui fazer residência no próprio Inca. O que aconteceu? Enquanto eu estava lá dentro, uma professora do primário teve leucemia e morreu também. Interessante que ela chegou a me reconhecer imediatamente. "Adriana?", ela disse. Eu comentei: "Sim, sou eu". "Você não se lembra de mim?", ela perguntou. Depois, quando eu já estava aqui em São Bento, minha mãe também teve leucemia - e morreu. Agora foi comigo. Eu convivi bastante com isso.
EVOLUÇÃO - Como foi seu caso, especificamente?
ADRIANA LISBOA - Era uma segunda-feira de manhã. Passei perto de uma porta de vidro, lá no hospital. Quando olhei, vi um caroço no pescoço. Eu falei: "Ué? Ontem, quando tomei banho, não vi esse caroço. Esse caroço não estava aqui". Olhei de novo e então perguntei a uma menina que trabalhava na sala de raio-x comigo: "Você está vendo esse caroço?". Então fiquei encucada e fui olhar no ultrassom. Quando olhei, eu disse: "Morri!". Como médica, eu podia aliviar a notícia para todo mundo, mas eu não podia aliviar a notícia para mim mesma.
EVOLUÇÃO - Isso é uma ironia...
ADRIANA LISBOA - É uma crueldade. Pensei: "Meu Deus, eu vou morrer!". Só de olhar, eu já sabia que era um tumor - e tinha certeza que era maligno. Aí falei: "Espera aí! Vamos parar para pensar". Fiquei uma semana quieta, sem contar para ninguém, sabendo que estava doente. Fiquei absolutamente quieta! Aí fui ver uma série de papeladas. O doente, principalmente a mulher, tem essa coisa, essa preocupação com a família, com a questão prática. Fui ver os seguros que eu tinha, as coisas que estavam no meu nome, etc. Porque, se eu morresse, o Antônio (Sammartino, marido) e as meninas (filhas) não teriam todo esse trabalho. Depois dessa uma semana, não sei por que, começamos a discutir em casa. Então eu falei: "Não tem problema. Quando isso acontecer, eu não estarei mais aqui mesmo". Ele (Antônio) viu que eu estava falando sério e perguntou: "O que aconteceu?". Então respondi: "Estou doente e é uma doença séria. Estou com câncer". Ele ficou desesperado, claro! A gente, como doente, tira força não sei de onde, mas a família fica desesperada. Parece um terremoto que sacode a família inteira. O Antônio falou para todos os meus colegas médicos. No dia seguinte, quando fui trabalhar, estavam todos eles me esperando. Uma cirurgiã disse assim: "Você vai ser operada hoje, vamos fazer biópsia - e se você não aparecer no centro cirúrgico às seis da tarde, eu venho aqui e vou lhe quebrar de pancada" (risos). Fiquei com mais medo dela do que da doença. No dia seguinte, veio a resposta do laboratório, afirmando que era um linfoma, um tumor maligno.
EVOLUÇÃO - Um linfoma?
ADRIANA LISBOA - Quando soube que era um linfoma, eu fiquei mais tranquila. Se for pego já no começo, você consegue lidar muito bem com ele. O linfoma é um tipo de tumor. A única desvantagem dele - por ser um tumor de linhagem sanguínea - é que ele pode se espalhar muito rapidamente.
EVOLUÇÃO - Você passou por todo aquele processo de quimioterapia?
ADRIANA LISBOA - Fiz quatro sessões de quimioterapia, uma a cada vinte e um dias. Não é bom, mas também não é tão ruim fazer a quimioterapia. Também fiz radioterapia, que foi a parte mais chata, que incomodou mais. Eu tinha que fazer radioterapia todos os dias, então tinha que descer até Jaraguá do Sul. Eu, claro, chegava lá já meio cansada, mas via pessoas que estavam em situações bem piores do que a minha. Então dizia: "Não vou nem reclamar, porque minha situação poderia ser pior".
EVOLUÇÃO - Quanto tempo de tratamento?
ADRIANA LISBOA - Comecei o tratamento em janeiro e terminei em agosto. Mas eu ia no conforto do meu carro. Quanta gente tem que esperar, pegar carro da prefeitura, sair daqui de manhã e passar o dia todo lá, numa situação debilitada.
EVOLUÇÃO - E a queda dos cabelos, lhe incomodou? Dizem que isso baixa bastante a autoestima.
ADRIANA LISBOA - Quando vimos que não havia mais nada, o Antônio chorou de alegria. Eu gritei um monte, dentro da clínica! O Antônio primeiro não acreditou. Tive que ir lá dentro, chamar o médico que fez meu exame. Ele disse: "A Adriana não tem mais nada". As minhas meninas foram um capítulo à parte. Contei para a Laís e contei para a Giulia. A Giulia olhou e disse: "Está bem". A Laís falou: "Mãe, você vai morrer?". Eu disse: "Um dia eu vou morrer, mas não vai ser da doença". Ela perguntou, ainda: "É verdade que você vai ficar careca, vai ter que ser internada?". Conforme fui levando minha vida mais próxima do normal, elas foram se tranquilizando. O Antônio é meio mãe, deu bastante apoio a elas.
EVOLUÇÃO - Muito bem, doutora. Mais alguma coisa que você gostaria de registrar?
ADRIANA LISBOA - Eu gostaria de deixar uma mensagem de gratidão, de carinho, a todas as pessoas que me ajudaram nesse período. Quero dizer que o câncer é uma doença muito democrática, que dá em velho e em novo, em rico e em pobre, em homem e mulher, em gente boa e em gente ruim. O que eu gostaria é que os governos realmente se preocupassem com isso. Já foi pior, mas tem muito para melhorar. Que os governos - estaduais, municipais, federal - se empenhem para que os pacientes tenham o mínimo de sofrimento possível, porque é difícil. Os governos deveriam ter mais consideração por isso.
Parabólicas
- Começou a caça as bruxas. Acreditem. Fui multado por não usar a seta e pior, num horário em que os fiscais não estão mais trabalhando, 17:18.
- Abonada. Pela prestação de contas do AlCAIDE a secretária Simone Lenshak Willemann, foi como pessoa física, a maior doadora financeira para a campanhade 2020. R$9 mil, equivalente a 5,18% do arrecadado, declarado evidentemente. Será que vai ter repeteco?
- A oposição está com pulga na cueca. No próximo dia 7 deve sair o julgamento do prefeito Tomazini que deverá influenciar na sua elegibilidade. Tomara que os julgadores tenham juízo e sabedoria para não fazer besteira em final de mandato.
- Cuidado com os elogios e afagos ,pricipalmente em ano eleitoral. Minha avó também acariciava as galinhas antes e lhes torcer o pescoço.
-Sou tão vencedor que nem peso eu perco.