Confira as indicações de profissionais que podem falar sobre diferentes aspectos do racismo e a importância do empoderamento negro
COMO A ESCRAVIDÃO ERA JUSTIFICADA NO BRASIL?
Durante o Brasil Império, quando os Cursos Jurídicos de São Paulo e Olinda/Recife nasciam, era preciso abordar a legalidade da escravidão. Revisitando as disciplinas de Direito Natural e Economia Política da época, o Mestre e Doutor em Direito Ariel Pesso nos faz conhecer o espaço privilegiado das “majestosas Faculdades” onde a escravidão foi justificada e criticada, nos dando pedaços de jornais acadêmicos que debatiam com ambivalência e contradição a “questão servil”. A elite colonial se justificava para manter o “elemento servil” como um projeto de futuro para o país independente, com sanção da lei e apoio do Estado. Esse é um capítulo da história que finalmente começa a ser escrito, quando políticas de cotas ao ensino universitário ampliaram a representatividade de classe, raça e etnia do coletivo discente. No livro "Escravidão no Brasil Império: A Fundamentação Teórica nas Faculdades de Direito do Século XIX", Ariel Pesso explora toda essa questão com profundidade, destacando tanto o apoio quanto as contestações que as escolas de Direito apresentavam aos crimes propagados pela escravidão.
ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO PRETA - AFROVELHICE
Você já parou para refletir sobre as consequências do racismo na terceira idade? Essa é justamente uma das frentes de pesquisa do Doutor em Comunicação Valmir Moratelli. O especialista, que trabalha com o termo "Afrovelhice", mostra como na etapa mais avançada de suas vidas, os negros, que tiveram negados os acessos às mesmas condições que os demais, não conseguem usufruir facilidades de bem-estar e acabam em situações ainda mais graves de vulnerabilidade. "A afrovelhice é caracterizada pelo aprofundamento de desigualdades enraizadas na sociedade brasileira", explica. Moratelli também pesquisa sobre a representatividade de idosos na TV e no cinema e é enfático ao apontar que os idosos negros são mal-representados com personagens sem contexto familiar e relevância nas tramas. Ele é autor do livro "A Invenção da Velhice Masculina", que trata de temas relacionados ao envelhecimento populacional e à afrovelhice.
CONSCIÊNCIA NEGRA PARA CRIANÇAS
Data forte do mês de novembro, a Consciência Negra é um momento simbólico para resgatar a cultura, a memória e dignidade dos povos escravizados. É tempo de combater o racismo, exaltar as origens e fortalecer o senso de pertencimento. A arte-educadora e artesã Aniete Abreu presta sua contribuição ao movimento de empoderamento infantil e de busca pela ancestralidade africana no livro Abayomi, a menina de trança. A autora é militante do movimento negro, contadora de histórias e ministra oficinas de bonecas Abayomi, em que são utilizados resíduos industriais de fábricas da região. Ela está disponível para entrevistas, para contribuir com pautas sobre o tema e oferecer dicas para recuperar a autoestima das crianças negras e criar ambientes mais inclusivos e menos racistas em sociedade.
EXISTEM PESSOAS QUE SÃO "MAIS PRETAS" QUE OUTRAS
A doutora em Educação Janaína Bastos chama atenção sobre como a percepção da cor da pele no Brasil, sobretudo dos pardos, varia conforme o contexto socioeconômico, cultural e geográfico. Assim, o indivíduo pode ser percebido como “mais para branco” ou “mais para negro” dependendo da renda, da escolaridade, da cidade onde mora, do vestuário, dos hábitos e do linguajar. Ela explica que termos como “moreno claro”, “moreno escuro”, “escurinho” e “mulato” são popularmente utilizados para definir aqueles que não são totalmente percebidos nem como brancos, nem como negros. Nesse embate gerado pela ambiguidade dos tons de peles dos mestiços, o racismo se manifesta de forma cruel. Isso porque muitos optam pelo caminho da busca pelo branqueamento para evitar o preconceito. Daí decorre a negação de traços negroides, por meio da raspagem ou do alisamento dos cabelos, por exemplo, o ocultamento dos ancestrais negros e a identificação com valores da branquitude. Janaína é autora do livro "Cinquenta Tons de Racismo".